Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Saber e Fazer .... Competências e Habilidades ?



Thereza Bordoni

O termo competência tem recebido vários significados ao longo do tempo. Percebo que em certos momentos algumas palavras assumem o significado de paradigma, e isto tem ocorrido com as palavras: competências e habilidades, apesar de que atualmente parece haver uma idéia comum de competência.

Mesmo assim, sinto que precisamos ainda, clarear o real significado de termos tão usados por nós educadores. Me vêem a mente algumas questões como:

Devemos dizer educar para competências ou educar por competências? A expressão "habilidades e competências", que sentido tem? Afinal que significado têm estas palavras?

Se observarmos o funcionamento das estruturas intrínsecas do processo educacional como um todo, perceberemos que a organização escolar estrutura-se em função das respostas dadas a estas perguntas, isto é, em torno da idéia da formação do sujeito para resolver situações-problemas do dia-a-dia, que envolvem diferentes graus de complexidade.

Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes. Por isto competências e habilidades ganharam destaque nos debates atuais, pois fazem referências simultâneas ao cotidiano social e educacional.

Segundo o professor Vasco Moretto, um dos sentidos de competência aflora na utilização da palavra no senso comum quando utilizamos expressões como "vou procurar um dentista, mas quero que seja competente", ou "meu irmão é um pianista competente". Todas elas têm o mesmo sentido: uma pessoa é competente quando tem os recursos para realizar bem uma determinada tarefa. A expressão isolada "fulano é competente" não tem muito sentido, provocando outra pergunta: "competente para fazer o quê?" Poderíamos dizer que Ronaldinho ( jogar de futebol) é mais, ou menos competente que Guga (tenista) ?

Vislumbrando as varias acepções de competências, parece-me mais lógico o conceito de competência relacionado à capacidade de bem realizar uma tarefa, ou seja, de resolver uma situação complexa. Para isso, o sujeito deverá ter disponíveis os recursos necessários para serem mobilizados com vistas a resolver a situação na hora em que ela se apresente. Educar para competências é, então, ajudar o sujeito a adquirir e desenvolver as condições e/ou recursos que deverão ser mobilizados para resolver a situação complexa. "Assim, educar alguém para ser um pianista competente é criar as condições para que ela adquira os conhecimentos, as habilidades, as linguagens, os valores culturais e os emocionais relacionados à atividade específica de tocar piano muito bem" (Moretto).

A competência é "portátil", por si só não é amarrada, tem de ter flexibilidade. Nesta analise, a idéia de competência é: "como me viro diante de uma situação complexa? A pessoa que realmente adquiriu uma competência tem condições de resolver este tipo de situação com criatividade. Assim, a metodologia com relação a competências precisa dar conta de situações novas. O trabalho em grupo e a pedagogia de projetos estão se destacando como facilitadores para uma nova metodologia. Porem, nem o professor nem o aluno estão preparados para trabalhar com a pedagogia de projetos. Para os educadores o entrave é trabalhar com as deficiências que os alunos trazem, independentemente do que eles têm de saber; Outra dificuldade que nós educadores temos é a de não termos sido educados para isso. Repetimos na nossa ação o modelo pelo qual fomos educados. A excessiva ênfase na compartimentalização em disciplinas é uma das coisas que dificultam o desenvolvimento de competências. Tanto o ensino fundamental quanto o médio têm tradição conteudista. Na hora de falar de competência mais ampla, carrega-se no conteúdo. Não estamos conseguindo separar a idéia de competência de conteúdos, a escola traz para os alunos respostas para perguntas que eles não fizeram: o resultado é o desinteresse; As perguntas são mais importantes que as respostas.

Em decorrência, será necessário também uma mudança no conceito do que é ensinar. O professor é um elemento chave na organização das situações de aprendizagem, pois compete-lhe dar condições para que o aluno "aprenda a aprender", desenvolvendo situações de aprendizagens diferenciadas, estimulando a articulação entre saberes e competências. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a exercitar habilidades, e através delas, a aquisição de grandes competências ou seja desenvolvendo habilidades através dos conteúdos. Caberia então aos professores mediar a construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo condições para que eles participem da nova sociedade do conhecimento.

Neste contexto definimos o papel do educador: aquele que prepara as melhores condições para o desenvolvimento de competências, isto é, aquele que, em sua atividade, não apenas transmite informações isoladas, mas apresenta conhecimentos contextualizados, usa estratégias para o desenvolvimento de habilidades específicas, utiliza linguagem adequada e contextualizada, respeita valores culturais e ajuda a administrar o emocional do aprendiz. E o ato de ensinar como o processo que proporciona a aquisição de recursos que possam ser mobilizados no momento em que situações-problema se apresentem.

Poderíamos dizer que uma competência permite a mobilização de conhecimentos para que se possa enfrentar uma determinada situação, uma capacidade de encontrar vários recursos, no momento e na forma adequadas. A competência implica uma mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.

O conceito de habilidade também varia de autor para autor. As habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio de conhecimentos. As competências pressupõem operações mentais, capacidades para usar as habilidades, emprego de atitudes, adequadas à realização de tarefas e conhecimentos. Desta forma as habilidades estão relacionadas ao saber fazer. Assim, identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades.

Sabemos que é necessário educar para competências, mas como fazê-lo ?

Torna-se necessária uma revisão daquilo que é desenvolvido em sala de aula, através da contextualização e da interdisciplinaridade. Ou seja, conteúdos impregnados da realidade do aluno demarcam o significado pedagógico da contextualização e a intercalação dos diversos conteúdos dentro de uma mesma disciplina explicita a interdisciplinaridades. Isto imprime significados e relevância aos conteúdos escolares favorecendo uma ruptura com as práticas tradicionais e o avançar em direção a uma "educação competente", pluralista, em rede, harmônica, flexível, aberta e processual.

Para conhecimento:

Vasco Moretto aponta cinco recursos para resolução de situações complexas:
a) o conhecimento de conteúdos relacionados à situação; b) as habilidades (saber fazer) para resolver a situação; c) o domínio das linguagens específicas relacionadas ao contexto; d) a compreensão dos valores culturais que dão sentido à linguagem e que torna a situação relevante no contexto, e e) a capacidade da administração do emocional diante do problema.

E as diretrizes do MEC explicitam 5 competências:

  • domínio de linguagens
  • compreensão de fenômenos
  • construção de argumentações
  • solução de problemas
  • e elaboração de propostas

OUTRAS VISÕES DE COMPETÊNCIA:

- A competência é o que o aluno aprende. Não o que você ensina. Jamil Cury/CNEB

- Competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Competências e habilidades pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto Em resumo: a competência só pode ser constituída na prática. Guiomar Namo de Mello

- Competência -"qualidades de quem é capaz de apreciar e resolver certos assuntos". Ela significa ainda habilidade, aptidão, idoneidade. Muitos conceitos estão presentes nessa definição: competente é aquele que julga, avalia e pondera; acha a solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada. É ainda quem tem capacidade resultante de conhecimentos adquiridos. Dicionário Aurélio

- Competência em educação é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos - como saberes, habilidades e informações - para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Philippe Perrenoud

- Competência é mais do que um conhecimento; Ela pode ser explicada como um saber que se traduz na tomada de decisões, na capacidade de avaliar e julgar. Lino de Macedo

- Conceito de competência, já claramente exposto nas Diretrizes e bem repetido aqui pelo Professor Cordão, envolve muito mais que acumular conhecimento, desenvolver habilidades e introjetar valores. O sentido é muito importante: não é uma soma de valores, de conhecimentos, de habilidades. É a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação esses componentes, para um desempenho eficiente e eficaz. Então, valores, conhecimentos e habilidades são componentes que, por si sós, não são a competência. Bahij Amin Aur - Conselho Estadual de Educação de SP

- Competência: "o saber em acção" ou "o agir em situação". DEB (2001): Currículo nacional do Ensino Básico Competências Essenciais; Ministério da Educação, Departamento da Educação Básica, Lisboa.

- A idéia de competências tem três ingredientes básicos. Primeiro: relaciona-se diretamente à idéia de pessoa. Você não pode dizer que um computador é competente; competente é o seu usuário, uma pessoa. Segundo: a competência vincula-se à idéia de mobilização, ou seja, a capacidade de se mobilizar o que se sabe para realizar o que se busca. É um saber em ação. Aliás, da má compreensão deste aspecto vem outra crítica, a de competência como mero saber fazer algo. Agir é mais do que fazer. Nilson Machado

- Um conceito de competência pode ser apresentado como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes demonstrados pela pessoa na realização de uma tarefa. Dizemos que somos competentes numa atividade quando esse conjunto de comportamentos apresentados resulta no sucesso para a realização daquela atividade. Harber

- Competências se desenvolvem em um contexto. Aprender, fazendo, o que não se sabe fazer. Philippe Meirieu

Para pensar:

- A quem compete facilitar o desenvolvimento de competências ?

- O que é ser competente ?

- Nós queremos desenvolver competências sob que ótica: a do capital, a do saber escolar, a da vida?

- Quais as grandes mudanças por parte do professor e do aluno no ensino atual e no ensino para competência?

- A competência valoriza o profissional?

- O que o aluno ganha com isto?

Bibliografia:

BRASIL, MEC. Em Aberto (Currículo: referenciais e tendências). INEP, Brasília, N.º 58, abril/jun. 1993.

COLL, César et alii. Os Conteúdos na Reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes, Porto Alegre, Artes Médicas, 1998

JANTSCH, A. P. e BIANCHETTI, L. (Orgs). Interdisciplinaridade. Rio de Janeiro, Vozes, 1995.

MORETTO, Vasco P. Construtivismo, a produção do conhecimento em aula. 3ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

MORIN, Edgar. Sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cotez,2000.

PERRENOUD, Philipe. Construir as competências desde a escola, Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.

____________. Dez novas competências para ensinar, Porto Alegre, Artes Médicas, 1999.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crase

Crase é a fusão de duas vogais idênticas. Representa-se graficamente a crase pelo acento grave.

Fomos à piscina
à
artigo e preposição

Ocorrerá a crase sempre que houver um termo que exija a preposição a e outro termo que aceite o artigo a.
Para termos certeza de que o "a" aparece repetido, basta utilizarmos alguns artifícios:

I. Substituir a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se aparecer aoou aos diante de palavras masculinas, é porque ocorre a crase.

Exemplos:

Temos amor à arte.
(Temos amor ao estudo)

Respondi às perguntas.
(Respondi aos questionário)

II. Substituir o "a" por para ou para a. Se aparecer para a, ocorre a crase:

Exemplos:

Contarei uma estória a você.
(Contarei uma estória para você.)

Fui à Holanda
(Fui para a Holanda)

3. Substituir o verbo "ir" pelo verbo pelo verbo "voltar". Se aparecer a expressão voltar da,é porque ocorre a crase.

Exemplos:

Iremos a Curitiba.
(Voltaremos de Curitiba)

Iremos à Bahia
(Voltaremos da Bahia)

Não ocorre a Crase

a) antes de verbo
Voltamos a contemplar a lua.

b) antes de palavras masculinas
Gosto muito de andar a pé.
Passeamos a cavalo.

c) antes de pronomes de tratamento, exceção feita a senhora, senhorita e dona:
Dirigiu-se a V.Sa. com aspereza
Dirigiu-se à Sra. com aspereza.

d) antes de pronomes em geral:
Não vou a qualquer parte.
Fiz alusão a esta aluna.

e) em expressões formadas por palavras repetidas:
Estamos frente a frente
Estamos cara a cara.

f) quando o "a" vem antes de uma palavra no plural:
Não falo a pessoas estranhas.
Restrição ao crédito causa o temor a empresários.

Crase facultativa

1. Antes de nome próprio feminino:
Refiro-me à (a) Julinana.

2. Antes de pronome possessivo feminino:
Dirija-se à (a) sua fazenda.

3. Depois da preposição até:
Dirija-se até à (a) porta.

Casos particulares

1. Casa

Quando a palavra casa é empregada no sentido de lar e não vem determinada por nenhum adjunto adnominal, não ocorre a crase.

Exemplos:

Regressaram a casa para almoçar
Regressaram à casa de seus pais

2. Terra

Quando a palavra terra for utilizada para designar chão firme, não ocorre crase.

Exemplos:

Regressaram a terra depois de muitos dias.
Regressaram à terra natal.

3. Pronomes demonstrativos: aquele, aquela, aqueles, aqueles, aquilo.

Se o tempo que antecede um desse pronomes demonstrativos reger a preposição a, vai ocorrer a crase.

Exemplos:

Está é a nação que me refiro.
(Este é o país a que me refiro.)
Esta é a nação à qual me refiro.
(Este é o país ao qual me refiro.)
Estas são as finalidades às quais se destina o projeto.
(Estes são os objetivos aos quais se destino o projeto.)
Houve um sugestão anterior à que você deu.
(Houve um palpite anterior ao que você me deu.)

Ocorre também a crase

a) Na indicação do número de horas:
Chegamos às nove horas.

b) Na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha oculta:
Usam sapatos à (moda de) Luís XV.

c) Nas expressões adverbiais femininas, exceto às de instrumento:
Chegou à tarde (tempo).
Falou à vontade (modo).

d) Nas locuções conjuntivas e prepositivas; à medida que, à força de...

OBSERVAÇÕES: Lembre-se que:

Há - indica tempo passado.
Moramos aqui seis anos

A - indica tempo futuro e distância.
Daqui a dois meses, irei à fazenda.
Moro a três quarteirões da escola.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

MINICURSO: O TEXTO DISSERTATIVO: CONCEITOS, ARTICULAÇÕES E TEXTUALIDADE

MINICURSO: O TEXTO DISSERTATIVO:

CONCEITOS, ARTICULAÇÕES E TEXTUALIDADE

José Antonio Ferreira da Silva

RESUMO

Este minicurso tem como objetivo construir um breve panorama sobre o tipo textual dito dissertativo. Para tanto, de forma sucinta e objetiva, apresentaremos considerações inicias sobre os conceitos de língua e texto, algumas noções sobre produção e tipologia textuais. Em seguida, analisaremos a estrutura do texto dissertativo e, por fim, trataremos dos critérios de textualidade, aprofundando-nos na coesão e coerência.

BIBLIOGRAFIA:

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 5. ed. São Paulo: Parábola, 2009.

______. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

______ O texto e a construção dos sentidos. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

______Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

______Ler e escrever: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

MARCUSCHI, Luiz Antonio, Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Párabola Editorial, 2008.

OLIVEIRA, Coisas que todo professor de português precisa saber. São Paulo: Parábola, 2010.

XAVIER, Antonio Carlos. Como se faz um texto. 3. ed. Recife: Respel, 2003.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Escolas Literárias – Revisão


Escolas Literárias – Revisão

Barroco

O período Barroco, sucedeu o Renascimento, do final do século XVI ao final do século XVII, estendendo-se a todas as manifestações culturais e artísticas européias e latino-americanas. O poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, publicado em 1601 é considerado o início do Barroco na Literatura Brasileira.

Principais autores: Gregório de Matos, Bento Teixeira, Padre Antonio Vieira

Arcadismo

Desenvolve-se no Brasil com o arcadismo a primeira produção literária adaptada à vida do país, já que os temas estão ligados à paisagem local. Surgem vários autores do gênero em Minas Gerais, centro de riqueza na época. Embora eles não cheguem a criar um grupo nos moldes das arcádias, constituem a primeira geração literária brasileira.

Romantismo

A literatura romântica inicia-se oficialmente no Brasil em 1836 com a publicação na França da Nictheroy - revista brasiliense, por Gonçalves de Magalhães. Este lança no mesmo ano a obra Suspiros poéticos e saudades. O romantismo inicia-se no Brasil, portanto, já distante das primeiras experiências européias, em um momento em que o movimento começará a entrar em decadência neste continente.

Poesia

Didaticamente divide-se a produção literária romântica brasileira em três gerações, que coincidem com as existentes em outros países:

1ª Geração

Indianista - o tema do bom selvagem (como é abordado o índio).

2ª Geração

Também conhecida como Ultra-Romantismo. Mal do século, boemia e cheia de vícios. Seus escritores foram influenciados pelo escritor inglês Lord Byron.

3ª Geração

Condoreira - preocupação social, já uma transição para o Realismo. Seus escritores foram muito influenciados pelo escritor francês Victor Hugo.

Prosa

A prosa romântica brasileira é uma reprodução dos temas primordiais deste período: o indivíduo e a tradição. Assim como ocorrera no resto do mundo, o romance foi, a partir do Romantismo, um excelente índice dos interesses da sociedade culta e semiculta do Ocidente. No Brasil a obra A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, é considerado o primeiro romance nacional, e inaugura o romantismo. Quem mais se destacaria nesse período é José de Alencar. O escritor trabalharia com os três tipos de ficção histórica dos românticos: passadista e colonial (O Guarani), a indianista (Iracema), a regionalista (O Gaúcho), além dos apaixonados e individualistas Cinco Minutos e A Viuvinha.

Snat Rita Durão -> criou o poema ' camururu ' ou homem de fogo

Realismo

A partir da extinção do tráfico negreiro, em 1850, acelera-se a decadência da economia açucareira no Brasil e o país experimenta sua primeira crise depois da Independência. O contexto social que daí se origina, aliado a leitura de mestres realistas europeus como Stendhal, Balzac, Dickens e Victor Hugo, propiciarão o surgimento do Realismo no Brasil. Assim, em 1881 Aluísio Azevedo publica "O Mulato" (primeiro romance naturalista brasileiro) e Machado de Assis publica "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (primeiro romance realista do Brasil). O realismo procura utilizar a palavra como força política, e através da descrição denuncia as desigualdades e desmandos de sua época.

Naturalismo

Como no Brasil os períodos literários chegam com algum atraso em relação a Europa, o Naturalismo desembarca no mesmo ano que o Realismo, ainda que seja uma evolução (ou seqüência) deste. No Naturalismo se salienta a hereditariedade, o determinismo, a influência dos ambientes e da educação, o fatalismo; sua relação com o Realismo são as propostas antirromântica e antiidealista. A ótica naturalista capta de preferência a mediocridade da rotina, os sestros e mesmo as taras do indivíduo, uma opção contrária dos românticos.O realismo também possuem muitas advertências com a sua posição na época .

Parnasianismo e Simbolismo

A viragem de século, do esgotamento do Naturalismo à Semana de arte moderna de 1922, conheceu o surgimento de duas correntes formalistas importantes que pregam a arte pela arte (em oposição ao Realismo), mas impõe regras formais rígidas (e nesse sentido serão superados pelo Realismo). Na prosa, essa corrente formalista e vernacular é representada por Rui Barbosa e Coelho Neto.

Os dois movimentos formalistas importantes que chegam ao Brasil são o simbolismo e o parnasianismo. Simbolismo é um movimento literário surgido na França, na segunda metade do século XIX, como oposição ao Realismo, pois procurou combater a obsessão cientificista dos realistas, através da retomada do subjetivismo e do espiritualismo (banidos da literatura pelo objetivismo realista). No Brasil o marco simbolista é a obra Broquéis, de Cruz e Sousa. As idéias parnasianas, também francesas chegam pelas mãos dos escritores Artur de Oliveira (1851-1882) e Luís Guimarães Júnior (1845-1898). Em 1878, o parnasianismo é apresentado ao público carioca durante uma polêmica em versos, travada em jornais da cidade, conhecida como Batalha do Parnaso, na qual o romantismo é atacado e os novos valores exaltados.



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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Como fazer seminário?


Seminário é um procedimento metodológico, que supõe o uso de técnicas (uma dinâmica de grupo) para o estudo e pesquisa em grupo sobre um assunto predeterminado.
O seminário pode assumir diversas formas, mas o objetivo é um só: leitura, análise e interpretação de textos dados sobre apresentação de fenômenos e / ou dados quantitativos vistos sob o ângulo das expressões científicas-positivas, experimentais e humanas .
De qualquer maneira, um grupo que se propõe a desenvolver um seminário precisa estar ciente da necessidade de cumprir alguns passos:
• determinar um problema a ser trabalhado;
• definir a origem do problema e da hipótese;
• estabelecer o tema;
• compreender e explicitar o tema- problema;
• dedicar- se à elaboração de um plano de investigação (pesquisa );
• definir fontes bibliográficas, observando alguns critérios;
• documentação e crítica bibliográficas:
• realização da pesquisa;
• elaboração de um texto, roteiro, didático, bibliográfico ou interpretativo.
Para a montagem e a realização de um seminário há um procedimento básico:
1º o professor ou o coordenador geral fornece aos participantes um texto roteiro apostilado, ou marca um tema de estudo que deve ser lido antes por todos, a fim de possibilitar a reflexão e a discussão;
2º procede-se à leitura e discussão do texto-roteiro em pequenos grupos.
Cada grupo terá um coordenador para dirigir a discussão e um relator para anotar as conclusões particulares a que o grupo chegar;
3º cada grupo é designado para fazer:
• a.exposição temática do assunto, valendo-se para isso das mais variadas estratégias: exposição oral, quadro-negro, slides, cartazes, filmes etc.Trata-se de uma visão global do assunto e ao mesmo tempo aprofunda-se o tema em estudo;
• b.contextualizar o tema ou unidade de estudo na obra de onde foi retirado do texto, ou pensamento e contexto histórico-filosófico-cultural do autor;
• c.apresentar os principais conceitos, idéias e doutrinas e os momentos lógicos essenciais do texto (temática resumida, valendo-se também de outras fontes que não o texto em estudo);
• d.levantar os problemas sugeridos pelo texto e apresentar os mesmos para discussão;
• e.fornecer bibliografia especializada sobre o assunto e se possível comentá-la;
4º plenário-é a apresentação das conclusões dos grupos restantes. Cada grupo, através de seu coordenador ou relator, apresenta as conclusões tiradas pelo grupo.
O coordenador geral ou o professor faz a avaliação sobre os trabalhos dos grupos, especialmente do que atuou na apresentação, bem como uma síntese das conclusões .
Outros métodos e técnicas de desenvolvimento de um seminário podem ser acatados, desde que seja respeitado o plano de prontidão para a aprendizagem .

Finalizando, apontamos que todo tema de um seminário precisa conter em termos de roteiro as seguintes partes:
• a.introdução ao tema;
• b.desenvolvimento;
• c.conclusão

Fonte: Guia para a elaboração de trabalhos escritos - UFRGS

terça-feira, 23 de agosto de 2011

OSCAR FLORES, UM JOVEM ATORMENTADO: ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DOS ETHE DE UM PERSONAGEM



Artigo escrito e apresentado por José Antonio Ferreira da Silva no Grupo de Trabalho 12 - INTERFACES ENTRE LÍNGUA E LITERATURA EM SITUAÇÃO DE ENSINO do VII Seminário Nacional sobre Ensino de Língua Materna e Estrangeira e de Literatura. UFCG – Universidade Federal de Campina Grande.

OSCAR FLORES, UM JOVEM ATORMENTADO: ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DOS ETHE DE UM PERSONAGEM

S. Ferreira, José Antonio
Licenciado em Letras e Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa,pelo Instituto Superior de Educação de Pesqueira – PE (ISEP)
Professor de “Análise e Produção do Texto Acadêmico” e de “Português Instrumental”, no ISEP.
Instituto Superior de Educação de Pesqueira (ISEP)
j.antonio.ferreira@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo geral relatar como é constituído o ethos pré-discursivo e discursivo do personagem Oscar Flores no conto “A mais estranha moléstia”, de João do Rio, utilizando os conceitos do ethos na Análise do Discurso. Os objetivos específicos são identificar como é o cenário enunciativo, o tom, o caráter e a corporalidade apresentados no conto em torno deste personagem. A problemática apontada neste estudo é a de como este personagem é “corporalizado” numa imagem masculina no referido conto de João do Rio. Utilizou-se como metodologia a Análise do Discurso de Maingueneau (2005; 2008 a; 2008 b; 2009) para verificar como é a construção dos ethe do personagem presentes no conto.
PALAVRAS-CHAVES: Conto. João do Rio. Ethos. Análise do Discurso.

1 INTRODUÇÃO

O objeto de nossa análise é o conto, que é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características estão: a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. O conto precisa causar um efeito singular no leitor, muita excitação e emotividade. “No conto tudo importa: cada palavra é uma pista. Em uma descrição, informações valiosas; cada adjetivo é insubstituível; cada vírgula, cada ponto, cada espaço – tudo está cheio de significado.” (CEREJA e COCHAR, 2009: 289).
A mais estranha moléstia é um conto sobre um jovem atormentado por um olfato anormalmente aguçado. Escrito por João do Rio, pseudônimo literário de Paulo Barreto (João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto), jornalista, cronista, contista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de agosto de 1881, e faleceu na mesma cidade, em 23 de junho de 1921. Notabilizou-se como o primeiro homem da imprensa brasileira a ter o senso da reportagem moderna. Como jornalista, foi um renovador histórico da imprensa brasileira, fundindo a reportagem e a crônica num novo gênero personalíssimo. Consagrou-se, também, literariamente. Como cidadão e artista, foi o arquétipo incomparável em sua época. Mulato, obeso e homossexual, ele sentiu na pele o preconceito contra suas diferenças, sendo desprezado publicamente por várias personalidades, e até mesmo vítima de uma covarde agressão física, enquanto almoçava, por um grupo de nacionalistas. Mas, ainda assim, ele convivia com a classe alta da época, e chegou até a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras.
O texto que iremos analisar faz parte do livro Dentro da Noite, que foi lançado em 1911. Reúne onze contos, já publicados anteriormente em jornais, e outros sete inéditos. Trata-se de uma coletânea de relatos urbanos sensuais, sórdidos e fúnebres, que mostram um mundo de glamour que serve para contrastar com o sórdido, o feio e o sombrio existentes na cidade e no interior do próprio homem. Essa obra foi descrita por João Carlos Rodrigues, no prefácio da edição consultada, como “a maior coleção de taras e esquisitices até então publicada na literatura brasileira”. Seus contos tratam de diversas deformações sensoriais, inclusive sadomasoquistas, e seu clima opressivo e apavorante é cercado de sensualidade e elementos góticos. Como se percebe, essa coletânea é muito mais que uma simples compilação de costumes de uma época.
Por toda essa riqueza que representa o texto de João do Rio, temos com este artigo o objetivo de analisar e refletir sobre os esquemas de composição dos ethe (discursivo e pré-discursivo) utilizados pelo autor na composição do personagem Oscar Flores, no conto citado. Buscamos identificar ainda como é o cenário enunciativo: o tom, o caráter e a corporalidade constituídos a partir desse personagem, para, assim, tentarmos depreender a imagem masculina (corporalidade) construída pelo autor em A mais estranha moléstia. O arcabouço teórico desta análise, que se detém no enfoque do ethos discursivo, está ancorado em Maigueneau (2005; 2008a; 2008b; 2009).

2 DESENVOLVIMENTO

Com a nossa análise temos a intenção de observar as propriedades, as estratégias, os meios e efeitos linguísticos e discursivos utilizados pelo autor, já que:

(...) analisar textos é procurar descobrir, entre outros pontos, seu esquema de composição; sua orientação temática, seu propósito comunicativo; é procurar identificar suas partes constituintes; as funções pretendidas para cada uma delas, as relações que guardam entre si e com elementos da situação, os efeitos de sentido decorrentes de escolhas lexicais e de recursos sintáticos. É procurar descobrir o conjunto de suas regularidades, daquilo que costuma ocorrer na sua produção e circulação, apesar da imensa diversidade de gêneros, propósitos, formatos, suportes em que eles podem acontecer. (ANTUNES, 2010: 49)

Para isso faremos uma verdadeira decomposição para melhor entendermos elementos básicos da estrutura do texto, tais como: fatos, personagens, tempo, espaço e narrador. Paralelo a esse processo iremos buscar a identificação do ethos presente no conto, principalmente em torno do personagem Oscar Flores. Assim, o enfoque dos elementos discursivos faz-se de extrema importância para se atingir esse objetivo, visto que as escolhas lexicais realizadas pelo escritor se materializam através das marcas lingüísticas, e são responsáveis pela efetivação do ethos. Conceito que explicitamos abaixo.

Ethos – Termo emprestado da retórica antiga, o ethos (em grego ηθοζ, personagem) designa a imagem de si que o locutor constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário. Essa noção foi retomada em ciências da linguagem e, principalmente, em análise do discurso, em que se refere às modalidades verbais da apresentação de si na interação verbal. (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008: 220)

Nessa perspectiva o ethos está ligado à palavra e não ao indivíduo real, é o sujeito da enunciação. Na Análise do Discurso temos como principal expoente dos estudos sobre o ethos, Maingueneau. Para ele, esse conceito nos permite uma visão mais geral da posição do sujeito em seu discurso. Ademais, o ethos se estende além dos enunciados orais, conforme podemos ler a seguir.

De fato, mesmo que o co-enunciador não saiba nada previamente sobre o caráter do enunciador, o simples fato de que um texto pertence a um gênero de discurso ou a um certo posicionamento ideológico induz expectativas em matéria de ethos.
Minha primeira deformação (alguns dirão ‘traição’) do ethos consistiu em reformulá-lo em um quadro da análise do discurso que, longe de reservá-lo à eloqüência judiciária ou mesmo à oralidade, propõe que qualquer discurso escrito, mesmo que a negue, possui uma vocalidade específica, que permite relacioná-lo a uma fonte enunciativa, por meio de um tom que indica quem o disse: o termo “tom” apresenta a vantagem de valer tanto para o escrito quanto para o oral: pode-se falar do “tom” de um livro. (MAINGUENEAU, 2008 a: 71-72)

Podemos entender então que o discurso escrito apresenta uma vocalidade específica, pela qual podemos construir o ethos. Ele se apresenta por meio de três características: tom, caráter e corporalidade. O Tom equivale ao discurso contido na enunciação; o caráter, entendemos como sendo o conjunto dos traços psicológicos, e a corporalidade, compreendemos como as características físicas e o modo de agir no espaço social (MAINGUENEAU, 2009).
Podemos dizer assim que em um discurso o ethos resulta da interação de vários fatores: do ethos pré-discursivo, do ethos discursivo (ethos mostrado) e dos fragmentos do texto em que o enunciador lembra a própria enunciação (ethos dito), diretamente (“é um amigo que vos fala”) ou indiretamente, por meio de metáforas ou alusões a cenas de outras falas (MAINGUENEAU, 2009: 270). Pode-se fazer a distinção entre o ethos pré-discursivo e o ethos discursivo da seguinte forma: o ethos pré-discursivo seria a imagem que o co-enunciador faz do enunciador, antes mesmo que este último tome a palavra para si.
Passemos à análise do conto pelo enredo. Numa estrutura comum à maioria dos contos de João do Rio, um personagem conta algo ao narrador. No caso aqui o relato do diálogo entre dois amigos, o narrador e Oscar Flores, esse um jovem atormentado por uma moléstia singular. O olfato desenvolvido a tal ponto que lhe modifica a vida e a forma como ele lida com o mundo em volta. A narrativa possibilita que identifiquemos que o narrador se apresenta em primeira pessoa, e é também personagem secundário. Vejamos o que dizem Platão e Fiorin sobre esse tipo de narrador:

Quando o narrador é um personagem secundário, observa de dentro os acontecimentos. Afinal, viveu os fatos relatados. O narrador conta o que viu ou ouviu e até mesmo se serve de cartas ou documentos que obteve. Não consegue saber o que se passa na cabeça dos outros. Pode apenas inferir, lançar hipóteses. O narrador pode ou não comentar os acontecimentos. (2007: 139)

Essas são características comuns do narrador em João do Rio: perscrutar a emoção alheia e gozar com ela. Para ele o narrador é um elemento que se torna essencial por ser um sujeito único, com uma oportunidade única de ouvir algo e ser a voz única a transmitir para alguém o que lhe foi confidenciado. Deparamo-nos com sua curiosidade em várias passagens, como, por exemplo, nesta: “– Então, Oscar, onde estás? É por isso que te caluniam...” (RIO, 2002:178).
Observemos agora o espaço que cria o autor. Podemos entender que “(...). Na narrativa, o espaço é o lugar onde se passa a ação. Articula-se com as personagens, podendo influenciar suas atitudes ou sofrer transformações provocadas por elas.” (CEREJA e COCHAR, 2009: 289). Dentro dessa perspectiva vale considerar a existência dos espaços físico e social. Esse relativo aos perfis socioeconômicos, morais e psicológicos que dizem respeito às personagens; aquele é o lugar onde acontecem os fatos que os envolvem. Porém, em se tratando de literatura, a visão do espaço transcende o puramente físico e social, passando pelo imaginário e simbólico até uma dimensão paralela. Conforme nos diz S. Júnior (2006: 33)

A literatura traga-nos a espaço estranho, à Quarta dimensão de um universo inexistente. São tempo e espaço paralelos. O mundo construído sendo outro e o nosso, num diálogo em que a imagem é marca que legitima a criação da existência inconcebível.

É o que vemos João do Rio fazer. Ele descreve muito bem os espaços físico e social, porém penetra também em uma dimensão mais etérea. Do ponto de vista físico o espaço é uma confeitaria, onde o narrador-personagem tem por hábito sentar-se com os olhos perdidos a contemplar os diversos movimentos da Avenida. Em relação ao social há uma rica descrição de ambientes que nos leva às características de uma época, pois somos transportados da dimensão espacial para a temporal. Vendo lugares e comportamentos comuns a um determinado momento histórico, sem esquecermo-nos do mundo glamoroso e metafórico que ele consegue descrever-nos, como em:

À beira das calçadas, a pouco e pouco os pingos de gás dos combustores formavam uma tríplice candelária de pequenos focos, longos rosários de contas ardentes, e era aqui o estralejamento surdo das lâmpadas elétricas de um estabelecimento; mais adiante, o incêndio das montras faiscantes, de espaço a espaço as rosetas como talhadas em vestes de arlequins dos cinematógrafos, brasonaundo de pedrarias irradiantes as fachadas. Ah! Os contos de fadas que são as cidades! Os meus olhos se fixavam na confusão mirionima das cores, vendo em cada roseta um caleidoscópio, sentindo em cada tabuleta o sonho postiço de um tesouro de Golconda, a escorrer para a semi-opacidade da noite de cascatas de rubis, lágrimas de esmeraldas, reflexos cegadores de safirinas, espelhamentos jaldes de topázios, (...). (RIO, 2002: 177)

No trecho citado João do Rio nos dá a certeza de que “Os lugares são perenes, as paisagens são instantes. O Espaço é a junção de ambos.” (S. JÚNIOR, 2006: 16).
Sabendo-se que o tempo ou época em que se passa a história em um texto literário pode ser indicado por marcadores temporais, formas verbais, ou pela própria sequência de eventos da narrativa que façam alusões ao tempo (CEREJA e COCHAR, 2009), observamos que o autor já começa o conto tecendo referências, em paratexto, à Belle Époque, como “(...) o momento verde, momento do aperitivo outrora absinto (...)” (RIO, 2002: 176). E pela própria sequência de acontecimentos vemos a configuração do tempo na lembrança de um evento “há quatro anos” (RIO, 20: 188), ou então ao ver “serem oito horas” e na “Avenida, centenas de lâmpadas elétricas acendiam a sua grande extensão no clarão da luz” (RIO, 2002: 189).
Passemos a observar a caracterização dos personagens, sendo que não nos deteremos no narrador. Nossa ênfase maior será dada ao personagem Oscar Flores. Comecemos, pois, refletindo no que diz Garcia:

Na prosa de ficção, a caracterização das personagens – sobretudo as mais complexas – em geral se vai delineando gradativamente, ao longo de toda a narrativa, pela acumulação dos traços físicos e psicológicos, revelados em breves e sumárias ou longas e detalhadas descrições da sua aparência física, dos seus gestos, atitudes, comportamento, sentimentos e idéias. (2006: 249)

É fácil perceber-se que é isso que faz João do Rio em relação ao personagem citado, ele o vai caracterizando ao logo do conto, tanto através do narrador-personagem quanto pelas próprias falas de Oscar Flores. Acompanhemos algumas passagens que justificam essa observação, primeiro por parte do narrador (RIO, 2002): “delicado Oscar Flores, um ente muito fino, muito sensível, do qual diziam horrores e que de resto parecia ter n’alma um fatigante segredo”, “E falavam tanto mal dele”, “com a sua palidez e as suas lindas mãos”, “Era encantadoramente lindo com o seu ar de adolescente de Veroneso, a pele morena, o negro cabelo anelado”, “rico e belo, com a sua bengala de castão de turquesa, a gravata presa de um raro esmalte, a atitude inquieta de um príncipe assassino e radiante”, “ és belo”, “tens espírito”, “ nem a beleza nem o espírito conseguiram reduzir-te à atroz banalidade de ser totalmente feliz”, “teu desequilíbrio é de fato de uma psicologia muito sutil, muito trabalhada”. Podemos considerar que todos esses apontamentos e descrições realizados pelo narrador em torno do personagem, além do próprio tom que o autor imprime em seus contos, ou seja, “relatos de taras e esquisitices” já constituem o ethos pré-discursivo do personagem, visto que, mesmo o ethos estando ligado ao ato de enunciação, não se pode ignorar o fato dos leitores construírem representações do ethos antes mesmo das falas de Oscar Flores, visto que o mesmo entra no enredo na condição de um jovem atormentado por um “segredo” do qual ainda nada se sabe, mas do qual já se fala mal.
Acompanhemos o que Oscar Flores diz de si mesmo, o que podemos chamar de ethos discursivo (ethos dito), ou seja, fragmentos do texto em que o enunciador evoca a sua própria enunciação. Vejamos as seguintes passagens: “Mas não tenho segredos”, “Tenho apenas a mais estranha moléstia nervosa que ninguém sabe”, “eu sofro desde criança”, e ainda:

A minha moléstia, o meu desequilíbrio, o império de um único sentido no meu organismo e nesta sensibilidade caldeada numa ascendência de requintados, deu-me da vida íntima uma prévia noção incorpórea, deslocou-me para um mundo de fantasia exasperante, fez-me o lascivo da atmosfera, o gozador das essências esparsas, o detalhador do imponderável, o empolgado da miragem da vida. (RIO, 2002)

Esclarece ele: “O olfato, apenas o olfato. Sou como o escravo, o ergastulado do cheiro”, “Sou a vítima do cheiro”. Contudo, após vários esclarecimentos clama: “eu sou um sujeito muito razoável e muito refletido”, tentando mudar o ethos que fora criado para ele. Mas ainda é possível localizar outro tipo de ethos que o personagem cria: o ethos mostrado, ou aquele que está no domínio do não explícito, que só pode ser seguido através das pistas deixadas. Entre as pistas que o personagem deixa, destacamos as várias vezes em que o mesmo reconhece que luta contra a moléstia, que a estuda, mas que, acima de tudo, é uma vítima do próprio destino, quando demonstra, além de um profundo desequilíbrio, várias esquisitices. Porém “a distinção entre ethos dito e ethos mostrado se inscreve nas extremidades de uma linha contínua, pois é impossível definir uma fronteira nítida entre o ‘dito’ sugerido e o ‘mostrado’ (MAINGUENEAU, 2009: 270)”.
A fim de explicarmos a forma como interpretamos o ethos que se constituiu no conto para o personagem, citamos a seguir o esquema proposto por Maingueneau (2008 b):












Dentro dessa perspectiva apresentada por Maingueneau, vejamos como a concepção de ethos é “encarnada”, isto é, quais são as suas determinações físicas e psíquicas (MAINGUENEAU, 2005: 98), e também como é “corporalizada” a imagem masculina do personagem. Para isso é preciso relembrar que todo texto escrito tem uma vocalidade que possibilita uma caracterização do corpo do enunciador a um fiador que, por meio do tom, atesta o dito (MAINGUENEAU, 2009: 271). Em outras palavras, as características que constroem o ethos são avalizadas pelo fiador, isto é, pelo discurso social que faz parte da memória do leitor, e que na leitura é ativado para validar ou não aquele ethos que se encontra na obra e que é formado ou transformado pelo leitor durante a leitura.
Mesmo em se admitindo que a percepção do ethos é complexa, pois depende principalmente da sensibilidade do intérprete, que o constrói a partir das informações absorvidas, dentre outras, através da materialização lingüística, podemos identificar o ethos criado por meio do entendimento do processo de “corpolarização” do personagem forjado pelo autor, que começa já pelo tom impresso ao livro do qual faz parte o conto, ou seja, o de ser “a maior coleção de taras e esquisitices até então publicada na literatura brasileira”. Isso faz com que o leitor já crie a expectativa de um personagem atormentado. Esse simulacro (estereótipo) vai se firmando pelos apontamentos do narrador, antes mesmo das primeiras falas de Oscar Flores, que já passa a ser visto pelo leitor como um jovem atormentado. Ao longo do conto o conjunto das características psicológicas, i.e., do caráter que vai sendo apresentado, reforça, pelas esquisitices narradas, a imagem do jovem desequilibrado, instável e com uma estranha moléstia, que até então vem sendo construída. Mesmo quando das falas do próprio personagem, que explicam que sua moléstia é uma hipersensibilidade olfativa, ele confessa também os desequilíbrios psicológicos e emocionais gerados pela enfermidade em questão. Mantendo-se, assim, o ethos e a imagem de um jovem atormentado.
No entanto, no que se refere à composição da corporalidade, i.e., a compleição física e a maneira de se vestir, o autor nos surpreende, pois contra a expectativa natural da manutenção da imagem negativa, ele apresenta-nos Oscar Flores como um belo espécime masculino. Com todos os atributos idealizados e desejados por e para o homem, quais sejam, ser bonito, rico e elegante. O autor chega a nos fazer crer que a moléstia apresentada pelo rapaz é apenas um capricho, “uma psicologia muito sutil”, quem sabe algo até normal. Finaliza dizendo que “talvez fosse na desvairada luxúria o grande sensual do ideal. E talvez não, talvez fosse um louco. Somos todos loucos mais ou menos”; deixando-nos a sensação de que para quem é rico, belo e bem vestido nada há de verdadeiramente anormal. É apenas o caso de um jovem atormentado. E quem não tem os seus tormentos...

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentemente do que ocorre na retórica tradicional, na concepção de Maingueneau o ethos não é visto como uma forma de persuadir, mas como parte da cena de enunciação. Para ele “(...) o ethos se mostra no ato de enunciação, mas não se diz no enunciado.” Sendo sua característica permanecer em um plano secundário da enunciação, devendo ser percebido, não, porém, ser objeto do discurso (MAIGUENEAU, 2009: 268). Na realidade, podemos perceber que a imagem masculina criada, e principalmente idealizada, por João do Rio para o personagem Oscar Flores revela um ethos criado e repetido há muito tempo, e que se materializa linguisticamente na forma de uma imagem masculina sonhada pelas mulheres e idealizada pelos homens. Mesmo através de um personagem que apresenta uma estranha moléstia, a imagem masculina que prevalece é a do rapaz encantadoramente lindo com o seu ar de adolescente de Veroneso, a pele morena, o negro cabelo anelado, rico e belo, com a sua bengala de castão de turquesa, a gravata presa de um raro esmalte, a atitude inquieta de um príncipe assassino e radiante. Essa é a imagem masculina que identificamos em Oscar Flores no conto A mais estranha moléstia.

REFERÊNCIAS

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Paulo Barreto (João do Rio) Biografia. Disponível em: Acesso em: 08 mar. 2011.

ANTUNES, Irandé. Análise de textos – fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

CEREJA, William; COCHAR, Thereza. Texto e Interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009.

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 4. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2005.

_____. Ethos, cenografia e incorporação. In: AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2008 a.

_____. A propósito do Ethos. In: MOTTA, Ana Raquel; Salgado, Luciana. Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008 b.

_____. Discurso Literário. São Paulo: Contexto, 2009.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

L.F. RIESEMBERG, L. F. Resenha crítica de Dentro de Noite de João do Rio. Disponível em: Acesso em: 22 mai. 2011

RIO, João. Dentro da noite. São Paulo: Antiqua, 2002

S. JÚNIOR, Alcides Mendes. Pa(lavras) em terra: forja e coifa de uma região. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006.