Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

sexta-feira, 25 de maio de 2012

COESÃO E COERÊNCIA


COERÊNCIA TEXTUAL

         "nenhum dos conceitos encontrados na literatura é capaz de conter em si todos os aspectos definidores de coerência"
         "a coerência teria a ver com a boa formação do texto em termos da interlocução comunicativa."
         "ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários (...) devendo ser vista como princípio de interpretabilidade do texto"
         "possibilidade de estabelecer alguma forma de unidade ou  relação. Essa unidade é sempre apresentada como referente ao texto como um todo".
KOCH E TRAVAGLIA (1989; 1990)

         " A coerência tem como fundamento a continuidade de sentidos, dizendo respeito ao modo como os componentes do mundo textual, isto é, a configuração de conceitos e relações subjacentes à superfície do texto, são mutuamente acessíveis e relevantes".
BEAUGRAND E DRESSLER (1981)

COESÃO E COERÊNCIA
"Todos os estudos procuram demonstrar que a coerência é profunda, subjacente à superfície lingüística do texto, não linear, não marcada explicitamente na estrutura da superfície", enquanto que a coesão é explicitamente revelada através de marcas lingüísticas, índices formais na estrutura da seqüência lingüística e superficial do texto, sendo, portanto, de caráter linear". " Os elementos lingüísticos da coesão não são nem necessários, nem suficientes para que a coerência seja estabelecida. Haverá sempre necessidade de recurso a conhecimento exteriores ao texto (conhecimento de mundo, dos interlocutores, da situação, de normas sociais, etc.)"
(Koch e Travaglia, 1990, comentando Charolles, 1989).

A COESÃO NÃO É NECESSÁRIA:

(1) CORTE  (Maria Amélia Mello)
(O dia segue normal. Arruma-se a casa. Limpa-se em volta. Cumprimenta-se os vizinhos. Almoça-se ao meio-dia. Ouve-se rádio a tarde. Lá pelas 5 horas, inicia-se o sempre).

(2)   O SHOW

          O cartaz
          O desejo
          O pai

          O dinheiro
          O ingresso
                                              
          O dia                               
          A preparação
          A ida                                
            
                                 
          O estádio   
          A multidão
          A expectativa

          A música
          A vibração
          A participação

          O fim
          A volta
          O vazio

     
     (texto de aluno de 1o. grau, calcado no modelo do poema
" A Pesca de Affonso Romano de Sant'Anna, citado por Koch e Travaglia, 1990)


(3a)    A: O telefone!
        B: Estou no banho!
        A: Certo.
  
(3b)A:  O telefone(está tocando. Você
        pode atender, por favor?)
    B:  (Não, não posso atender porque)
        Estou no banho.
    C:  Certo(eu vou atender)


A possibilidade de estabelecer uma relação (normalmente semântica e/ou pragmática) entre os elementos da seqüência, criando uma unidade, é que é fundamental para a coerência. Às vezes, essa possibilidade fica na dependência de um único elemento do texto.

(4) Petróleo
É utilizado no transporte, na produção de energia e nos mais diferentes tipos de indústria, através de seus numerosos subprodutos, sendo, por isso fundamental à vida humana.
Embora a produção brasileira seja insuficiente para o consumo interno, o país tem envidado esforços para, dentro em breve, não depender mais de sua importação.


A COESÃO NÃO É SUFICIENTE:
(5) O gato comeu o peixe que meu pai pescou. O peixe era grande. Meu pai é alto. Eu gosto do meu pai. Minha mãe também gosta. O gato é branco. Tenho muitas roupas brancas.

(6) João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da Relatividade o espaço é curvo. A geometria Rimaniana dá conta desse fenômeno.
(Marcushi, 1983, p.31)

Possibilidade de existência de textos incoerentes
    " Texto incoerente é aquele em que o leitor ou ouvinte não consegue descobrir qualquer continuidade de sentido, seja pela discrepância entre os conhecimentos ativados, seja pela inadequação entre esses conhecimentos e o seu universo cognitivo."
" Uma vez que se aceita que não existe o texto incoerente em si, mas apenas que o texto pode ser incoerente para alguém em determinada situação discursiva, o professor deve trabalhar a produção ( e também a compreensão de textos, buscando, sempre, deixar muito claro em que situação o texto a ser produzido deve ser encaixado.
(Koch e Travaglia, 1989, p.32)

(7) João Carlos vivia em uma pequena casa construída no alto de uma colina árida, cuja frente dava para leste. Desde o pé da colina se espalhava em todas as direções, até o horizonte, uma planície coberta de areia. Na noite em que completava 30 anos, João, sentado nos degraus da escada colocada à frente de sua casa, olhava o sol poente e observava como a sua sombra ia diminuindo no caminho coberto de grama. De repente, viu um cavalo que descia para a sua casa. As árvores e as folhagens não permitiam ver distintamente: entretanto observou que o cavalo era manco. Ao olhar de mais perto verificou que o visitante era seu filho Guilherme, que há 20 anos tinha partido para alistar-se no exército, e, em todo este tempo, não havia dado sinal de vida. Guilherme, ao ver seu pai, desmontou imediatamente, correu até ele, lançando-se nos seus braços e começando a chorar.
 Koch e Travaglia, 1989, p. 33)

NUM OUTRO MUNDO
   Desde o início dos anos 80, sabe-se em todo o mundo que a AIDS mata. desde o início dos anos 80, sabe-se em todo o mundo que a única forma de prevenção relativamente eficaz contra a transmissão da moléstia é o uso da camisa-de-vênus - a camisinha - da qual o governo está sem estoques, como revelou ontem esta Folha. As autoridades sanitárias brasileiras, contudo, parecem estar num outro mundo.
   Além de umas poucas e tímidas campanhas mostrando a importância dos preservativos para a prevenção da AIDS e de algumas belas, porém quase inócuas, peças afirmando não haver razão para discriminar doentes, as autoridades nada de significativo fizeram. É verdade que o Brasil, convive com muitas outras doenças que, por enquanto, ainda são mais letais que a síndrome. Mas é importante observar que a AIDS é incurável e tem potencial geométrico de propagação.
   A única forma de tentar reverter a ascendente curva da morte - e isso 's possível, o Zaire já conseguiu - é fazer com que a população use maciçamente a camisinha. Segundo a OMS, para cada milhão de preservativos usados, evitam-se 303 casos de infecção do HIV. No mercado internacional, com o custo unitário da camisinha a US$ 0,03, impedir uma contaminação sai por US$ 99. Tratar um aidético pode custar milhares de dólares.
   Entretanto, no Brasil, o custo da camisinha chega a ser, devido à cobrança de ICMS e IPI e de outras exigências burocráticas, 14 vezes superior ao do similar no mercado internacional.
   Enfim, passados mais de dez anos da descoberta da doença e da forma mais conhecida de preveni-la, só agora as autoridades sanitárias estão cogitando de pedir a isenção de impostos para o produto e a liberalização das importações. A título de exemplo da miopia do governo, o diamante lapidado está isento de IPI; a camisinha paga 15%.
                  (Folha de São Paulo, 15/08/95)
  
FAZENDO AS CONEXÕES
     Uma preocupação de quem escreve é ver se os conectores estão empregados com precisão. A toda hora estamos fazendo uso deles. Por isso, damos a seguir uma lista sucinta desses conectivos e suas respectivas funções:
conjunções, locuções conjuntivas, preposições e locuções prepositivas:

1.  adição - e, nem, também, não só... mas também.
2.  alternância - ou... ou, quer...quer, seja...seja.
3.  causa - porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+ infinitivo).
4.  conclusão - logo, portanto, pois.
5.  condição - se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
6.  comparação - como, assim como.
7.  conformidade - conforme, segundo.
8.  conseqüência - tão...que, tanto... que, de modo que, de sorte que, de forma que, de maneira que.
9.  explicação - pois, porque, porquanto.
10. finalidade - para que, a fim de que; para (+ infinitivo).
11. oposição - mas, porém, entretanto; embora, mesmo que; apesar de (+ infinitivo).
12. proporção - à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos.
13. tempo - quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto.

Pronomes relativos:  que - quem - cujo - onde.
Ao empregar um pronome relativo devemos ter o seguinte cuidado:
1. ver a palavra a que ele se refere para evitar erros de concordância verbal.
Ex.: Encontramos um bom número de pessoas que estavam reivindicando os mesmos direitos que nós.
Que = as quais (pessoas)
2. Observar o fragmento de frase de que ele faz parte. Pode ser que haja um verbo ou um substantivo que exija uma preposição. Neste caso, ela deve preceder o relativo.
Ex.: Ninguém conseguiu até hoje esquecer a cilada de que ele foi vítima.
de que = da qual (cilada)
A preposição de foi exigida pelo substantivo vítima. A pessoa foi vítima de uma cilada.
O mesmo acontece com os verbos.
Ex.: As dificuldades a que você se refere são normais dentro de sua carreira.
a que = às quais (dificuldades)
O verbo referir-se pede a preposição a, por isso ela aparece antes do que.

AS TRANSIÇÕES
     Alguns dos conectores que acabamos de estudar também aparecem com freqüência iniciando frases, como se fossem uma espécie de ponte entre um pensamento e outro.
     O conhecimento desses termos de transição ajuda a dar maior organicidade ao pensamento, fazendo o texto progredir mais fácil. Mas é preciso uma advertência: não devemos usá-los a cada frase começada. Se fizermos assim, tornaremos o texto pesado. Também não devemos cair no oposto: ignorá-los completamente. Nosso texto correrá o risco de ficar cansativo, quando não incompreensível. Saber usar os termos de transição deve ser uma preocupação constante de quem deseja escrever bem. Eles são muito úteis ao mudarmos de parágrafo porque estabelecem pontes seguras entre dois blocos de idéias.

Eis os mais importantes e suas respectivas funções:
1.  afetividade: felizmente, queira Deus, pudera, oxalá, ainda bem (que).
2.  afirmação: com certeza, indubitavelmente, por certo, certamente, de fato.
3.  conclusão: em suma, em síntese, em resumo.
4.  conseqüência: assim, consequentemente, com efeito.
5.  continuidade: além de, ainda por cima, bem como, também.
6.  dúvida: talvez, provavelmente, quiçá.
7.  ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.
8.  exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão.
9.  explicação: a saber, isto é, por exemplo.
10. inclusão: inclusive, também, mesmo, até.
11. oposição: pelo contrário, ao contrário de.
12. prioridade: em primeiro lugar, primeiramente, antes de tudo, inicialmente.
13. restrição: apenas, só, somente, unicamente.
14. retificação: aliás, isto é, ou seja.
15. tempo: antes, depois, então, já, posteriormente.


COESÃO TEXTUAL
         Ulysses era impressionante sob vários aspectos, o primeiro e mais óbvio dos quais era a própria figura. Contemplado de perto, cara a cara, ele tinha a oferecer o contraste entre as longas pálpebras, que subiam e desciam pesadas como       cortinas de ferro, e os olhos claríssimos, de um azul leve como o ar. As pálpebras anunciavam profundezas insondáveis. Quando ele as abria parecia estar chegando de regiões inacessíveis, a região dentro de si onde guardava sua força.
                  Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 21-10-92.

     Em nenhum momento, o autor da reportagem se desvia do assunto (Ulysses Guimarães) porque  se manteve atento à coesão. Para escrever de forma coesa, há uma série de recursos, como:
1. O uso de epítetos: palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa.
    Glauber Rocha fez filmes memoráveis. Pena que o cineasta mais famoso do cinema brasileiro tenha morrido tão cedo.
Glauber Rocha foi substituído pelo qualificativo cineasta mais famoso do cinema brasileiro.
2. Nominalizações: o emprego de um substantivo que remete a um verbo enunciado anteriormente.
   Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal testemunho não era válido por serem parentes do assassino.
Pode também ocorrer o contrário: um verbo retomar um substantivo já enunciado
   Ele não suportou a desfeita diante de seu próprio filho. Desfeitear um homem de bem não era coisa para se deixar passar em branco.
3. Palavras ou expressões sinônimas ou quase-sinônimas
   Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que serviram até de porta de galinheiro.
4. Repetição de uma palavra (com ou sem determinante) quando não for possível substituí-la por uma outra.
    Cultura é a forma como a gente se veste. Cultura engloba também as manifestações artísticas. Cultura é a soma de todos os hábitos de um povo. Qualquer cultura, portanto, tem elementos de interesse para um antropólogo.
5. Um termo-síntese
       O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher um sem-número de papéis. Depois, pagar uma infinidade de taxas. Todas essas limitações acabam prejudicando o importador.
A palavra limitações sintetiza o que foi dito antes.
6. Pronomes
   Vitaminas fazem bem à saúde. Mas não devemos tomá-las ao acaso.
   O Colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam muito com a educação integral.
   Aquele político deve ter um discurso muito convincente. Ele já foi eleito seis vezes.
   Há uma grande diferença entre Paulo e Maurício. Este guarda rancor de todos, enquanto aquele tende a perdoar.
7. Numerais
   Não se pode dizer que toda a turma esteja mal preparada. Um terço pelo menos parece estar dominando o assunto.
   Recebemos dois telegramas. O primeiro confirmava a sua chegada; o segundo dizia justamente o contrário.
8. Advérbios pronominais (aqui, ali, lá, aí)
   Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci: A "Mona Lisa".
9. Elipse
   O ministro foi o primeiro a chegar.(Ele) Abriu a sessão às oito em ponto e (ele) fez então seu discurso emocionado.
10. Repetição do nome próprio (ou parte dele)
   Manuel da Silva Peixoto foi um dos ganhadores do maior prêmio da loto. Peixoto disse que ia gastar todo o dinheiro na compra de uma fazenda e em viagens ao exterior.
   Lygia Fagundes Telles é uma das maiores escritoras brasileiras da atualidade. Lygia é autora de "Antes do baile verde", um dos melhores livros de contos de nossa literatura.
11. O uso da metonímia: processo de substituição de uma palavra por outra, fundamentado numa relação de contigüidade semântica.
    O governo tem-se preocupado com os índices de inflação. O Planalto diz que não aceita qualquer remarcação de preço.
    Santos Dummont chamou a atenção de toda Paris. O Sena curvou-se diante de sua invenção.






sexta-feira, 4 de maio de 2012

DISSERTAÇÃO - Dicas



DISSERTAÇÃO
Dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma idéia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto.
          Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes.
  1. introdução - em que se apresenta a idéia ou o ponto de vista que será defendido;
  2. desenvolvimento ou argumentação - em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o leitor; para isso, deve-se usar uma sólida argumentação, citar exemplos, recorrer a opinião de especialistas, fornecer dados, etc.
  3. conclusão - em que se dá um fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados.
          Quanto à linguagem, prevalece o sentido denotativo das palavras e a ordem direta das orações. Também são muito importantes, no texto dissertativo, a coerência das idéias e a utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções que explicitam as relações entre as idéias expostas. Portanto, a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de idéias e na forma como essas idéias são articuladas. Quando se lança mão de uma figura de linguagem, ela deverá sempre ser utilizada com valor argumentativo, como um instrumento a mais para a defesa de uma determinada idéia.
O Esquema-Padrão
          Inicialmente, é preciso não confundir esquema com rascunho.
          É importante atentar para um fato: cada dissertação, dependendo do tema e da argumentação, pede um esquema. Uma dissertação subjetiva, por exemplo, permite ao produtor do texto utilizar certos recursos que seriam descabidos numa dissertação objetiva.
          Esquema é um guia que estabelecemos para ser seguido, no qual colocamos em frases sucintas (ou mesmo em simples palavras) o roteiro para a elaboração do texto. No rascunho, vamos dando forma à redação, porque nele as idéias colocadas no esquema passam a ser redigidas, tomando a forma de frases até chegar a um texto coerente.
          O primeiro passo para a elaboração de um esquema é ter entendido o tema proposto, pois de nada adiantará um ótimo esquema se ele não estiver adequado ao tema.
          Por ser um roteiro a seguir, deve-se dividir o esquema nas partes de que se compõe a redação. Se formos escrever uma redação dissertativa, o esquema já deverá apresentar as três partes da dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão, que podem vir representadas pelas letras a, b e c, respectivamente.
          Na letra a, você deverá colocar a tese que vai defender; na letra b, palavras que resumam os argumentos que você apresentará para sustentar a tese; na letra c, uma palavra que represente a conclusão a ser dada.
          Quando estamos fazendo o esquema do desenvolvimento (letra b), é comum surgirem inúmeras idéias. Registre-as todas, mesmo que mais tarde você não venha a utilizá-las. Essas idéias normalmente vêm sem ordem alguma; por isso, mais tarde é preciso ordená-las, selecionando as melhores e colocando-as em ordem de importância. A esse processo damos o nome de hierarquização das idéias.
          Para não se perder tempo elaborando um outro esquema, a hierarquização das idéias pode ser feita por meio de números atribuídos às palavras que aparecem no esquema, seguindo a ordem em que serão utilizadas na produção do texto.
          Apresentamos, agora, um exemplo do esquema com as idéias já hierarquizadas:
Tema: A pena de morte: contra ou a favor?
a) contra, não resolve.
b) 1. direito à vida – religião.   
    2.  outros países – EUA
    3. erro judiciário.
    4. classes baixas
    5. tradição.
  c) ineficaz: solução: erradicação da pobreza.
Feito o esquema, é segui-lo passo a passo, transformando as palavras em frases, dando forma à redação.
No exemplo dado, na introdução você se declararia contrário (a) à pena de morte porque ela não resolve o problema do crescente aumento da criminalidade no país.
No desenvolvimento, você utilizaria os argumentos de que todas as pessoas têm direito à vida, consagrado pelas religiões; de que nos países em que ela existe, citando os Estados Unidos como exemplo, não fez baixar a criminalidade; de que sempre é possível haver um erro judicial que leve a matar um inocente; de que, no caso brasileiro, ela seria aplicada somente às classes mais baixas; que não podem pagar bons advogados; e, finalmente, de que a tradição jurídica brasileira consagra o direito à vida e repudia a pena de morte.
Como conclusão, retomaria a tese insistindo na ineficácia desse tipo de pena e indicando outras soluções para resolver o problema da criminalidade, como a erradicação da miséria.
A Gramática da Dissertação
Quanto aos aspectos formais, a dissertação dispensa o uso abusivo de figuras de linguagem, bem como do valor conotativo das palavras (veja bem: estamos falando que não se deve abusar). Por suas características, o texto dissertativo requer uma linguagem mais sóbria, denotativa, sem rodeios (afinal, convence-se o leitor para força dos argumentos, não pelo cansaço); daí ser preferível o uso da terceira pessoa.
Ao contrário da narração, a dissertação não apresenta uma progressão temporal; os conceitos são genéricos, abstratos e, em geral, não se prendem a uma situação de tempo e espaço; por isso o emprego de verbos no presente. Ao contrário da descrição, que se caracteriza pelo período simples, a dissertação trabalha com o período composto (normalmente, por subordinação), com o encadeamento de idéias; nesse tipo de construção, o correto emprego dos conectivos é fundamental para se obter um texto claro, coeso, elegante.
NARRAÇÃO
A Narração é um relato centrado num fato ou acontecimento; há personagem(ns) atuando e um narrador que relata a ação. A narração é um tipo de texto marcado pela temporalidade. Ou seja, como seu material é o fato e a ação que envolve personagens, a progressão temporal é essencial para seu desenrolar: as ações direcionam-se para um conflito que requer uma solução, o que nos permite concluir que chegaremos a uma situação nova. Portanto, a sucessão de acontecimentos que leva a uma transformação, a uma mudança, e a trama que se constrói com os elementos do conflito desenvolvem-se necessariamente numa linha de tempo e num determinado espaço.
          Esquematizando, teríamos: a personagem A vive um conflito X que se resolve assim; após o conflito, o personagem A não será o mesmo do início da narrativa.
Os elementos da narrativa são: Narrador, enredo, personagens, ambiente e tempo.

Protagonistas e Antagonistas
          Já sabemos que a narrativa, em geral, está centrado num conflito, que pode se dar entre o personagem e o meio físico, ou entre ele e sua consciência, ou entre dois personagens. Como exemplo: dois personagens desempenham o papel de lutadores. Em linguagem popular, temos caracterizados o "mocinho" e o "bandido" (ou, como querem alguns desenhos de televisão, "os do bem" e "os do mal"). Ou ainda, em outros termos, o herói e o vilão. Esses personagens recebem o nome de protagonista e antagonista.
          "Protagonista" e "antagonista" são palavras que vêm do grego. Conhecer o significado original delas é bastante educativo:
          protagonista: [Do gr. protagonistés, o principal 'ator', ou 'competidor'.] S. 2g. 1. O primeiro ator do drama grego. (...) 2. Teat. e Cin. A personagem de uma peça teatral, de um filme, de um romance, etc. 3. Fig. Pessoa que desempenha ou ocupa o primeiro lugar num acontecimento.
          antagonista: [Do gr. antagonistés, pelo lat. antagonista.]. Adj. 2 g. 1 Que atua em sentido oposto, opositor, adversário. (...) S. 2g. 4. Pessoa que é contra alguém ou algo, adversário, opositor.
          Percebeu? Um é "o principal lutador"; o outro é "o que luta contra".
Uma observação: ao construir uma narrativa, nunca despreze o antagonista; poderíamos até mesmo afirmar que o sucesso de uma narrativa está diretamente ligado à perfeita caracterização desse personagem. Que o digam as novelas de televisão!
Narração e Narratividade
          Em nosso dia-a-dia deparamos com inúmeros textos narrativos: estamos o tempo todo contando algo ou ouvindo o relato de alguém. O mesmo ocorre quando abrimos um jornal, ouvimos um noticiário ou assistimos a um telejornal. Esses textos, embora narrativos, não são considerados narração, uma vez que não pertencem ao campo da ficção, não objetivam o envolvimento do leitor pelo trama, pelo conflito.
          É o caso, por exemplo, dos relatos, que tem o nítido propósito de transmitir fatos acontecidos, situações vividas. Observe que há um ponto em comum entre esse tipo de texto e as narrações: ambos são caracterizados pela temporalidade.
          É isso que nos permite afirmar que nos relatos há narratividade, ou seja, o modo de ser da narração.
          A narratividade é marcada pela seqüência de acontecimentos e pela transformação, sem caracterização do narrador, dos personagens e, principalmente, do conflito. Em uma manchete de jornal afirma que "Fulano foi eleito presidente", temos narratividade e não narração. Havia uma situação inicial A (Fulano era candidato), que uma sucessão de acontecimentos (a campanha, a votação, a contagem de votos, a proclamação) levou a uma situação B, distinta da situação inicial (Fulano agora está eleito).
Os Elementos da Narrativa
          Como já vimos anteriormente, a narrativa de ficção é um relato centrado num fato ou acontecimento; há personagens atuando e um narrador que relata a ação. O tempo e o cenário ou ambiente são outros elementos importantes na estrutura da narração. O autor trabalha o conjunto desses elementos no sentido de simular, de fingir uma história que reflita uma dada realidade. O universo da ficção nos apresenta uma realidade que não é verdadeira, mas é possível ser, e por isso a aceitamos como real.
DESCRIÇÃO
Na descrição não há sucessão de acontecimentos no tempo, de sorte que não haverá transformações de estado da pessoa, coisa ou ambiente que está sendo descrito diferentemente da narração, mas sim a apresentação pura e simples do estado do ser descrito em um determinado momento.
 A descrição se caracteriza por ser o retrato de pessoas, objetos ou cenas. Para produzir o retrato de um ser, de um objeto ou de uma cena, podemos utilizar a linguagem não-verbal, como no caso das fotos, pinturas e gravuras, ou a linguagem verbal (oral ou escrita). A utilização de uma dessas linguagens não exclui necessariamente a outra: pense, por exemplo, nas fotos ou ilustrações com legendas, em que a linguagem verbal é utilizada como complemento da linguagem não-verbal. Pense também num anúncio de animal de estimação perdido em que, ao lado da descrição verbal, também seja apresentada, como complemento àquela informação, a sua foto.
A Descrição Verbal
A descrição verbal também trabalha com imagens, representadas por palavras devidamente organizadas em frases. Essas imagens podem ou não vir associadas a informações.
         Pode-se entender a descrição como um tipo de texto em que, por meio da enumeração de detalhes e da relação de informações, dados e características, vai-se construindo a imagem verbal daquilo que se pretende descrever. Observe que, no texto de Arthur Nestrovski, o autor enumera elementos constantes do trabalho de Sebastião Salgado, associando a eles informações que não estão presentes na foto.
          A descrição, entretanto, não se resume a uma enumeração pura e simples. Se assim fosse, a descrição de Arthur Nestrovski faz da foto de Sebastião Salgado nada nos esclareceria além daquilo da própria foto nos diz. É essencial revelar também traços distintivos, ou seja, aquilo que distingue o objeto descrito dos demais. Observe que, ao descrever a foto, o autor nos revela características que, talvez, não tivéssemos percebido quando a olhamos pela primeira vez, além das impressões que ela lhe causou.
Uma observação
Dificilmente você encontrará um texto exclusivamente descrito (isso ocorre em catálogos, manuais e demais textos instrucionais). O mais comum é haver trechos descritivos inseridos em textos narrativos e dissertativos. Em romances, por exemplo, que são textos narrativos por excelência, você pode perceber várias passagens descritivas, tanto de personagens como de ambientes.
   O Ponto de Vista
     O Ponto de vista é a posição que escolhemos para melhor observar o ser ou o objeto que vamos descrever. No entanto, nas descrições, além da posição física, é fundamental a atitude, ou seja, a predisposição psicológica que temos com relação àquilo que vamos descrever. o ponto de vista (físico e psicológico) que adotarmos acabará determinando os recursos expressivos (vocabulário, figuras, tipo de frase) que utilizaremos na descrição.
   O ponto de vista físico vai determinar a ordem da apresentação dos detalhes, que devem ser apresentados progressivamente. Observe o que diz Othon M. Garcia, em sua obra Comunicação em prosa moderna p. 217:
Nunca é, por exemplo, boa norma apresentar todos os detalhes acumulados em um só período. Deve-se, ao contrário, oferecê-los ao leitor pouco a pouco, verificando as partes focalizadas e associando-as ou interligando-as.
     Na descrição de uma pessoa, por exemplo, podemos, inicialmente, passar uma visão geral e depois, aproximando-se dela, a visão dos detalhes: como são seus olhos, seu nariz, sua boca, seu sorriso, o que esse sorriso revela (inquietação, ironia, desprezo, desespero...), etc.
    Na descrição de objetos, é importante que, além da imagem visual, sejam transmitidas ao leitor outras referências sensoriais, como as táteis (o objeto é liso ou áspero?), as auditivas (o som que ele emite é grave ou agudo?), as olfativas (o objeto exala algum cheiro?).
    A descrição de paisagens (uma planície, uma praia, por exemplo) ou de ambientes (como uma sala, um escritório) -- as cenas -- também não devem se limitar a uma visão geral. É preciso ressaltar seus detalhes, e isso não é percebido apenas pela visão. Certamente, numa paisagem ou ambiente haverá ruídos, sensações térmicas, cheiros, que deverão ser transmitidos ao leitor, evitando que a descrição se transforme numa fria e pouco expressiva fotografia. Também poderão integrar a cena pessoas, vultos, animais ou coisas, que lhe dão vida. É, portanto, fundamental destocar esses elementos.



DEFEITOS DO TEXTO
1. AMBIGÜIDADE
          A duplicidade de sentido, seja de uma palavra ou de uma expressão, dá-se o nome de ambigüidade. Ocorre geralmente, nos seguintes casos:
Má colocação do Adjunto Adverbial
Exemplos: Crianças que recebem leite materno freqüentemente são mais sadias.
          As crianças são mais sadias porque recebem leite freqüentemente ou são freqüentemente mais sadias porque recebem leite?
          Eliminando a ambigüidade: Crianças que recebem freqüentemente leite materno são mais sadias.
          Crianças que recebem leite materno são freqüentemente mais sadias.
Uso Incorreto do Pronome Relativo
          Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes que estava sobre a cama.

          O que estava sobre a cama: o estojo vazio ou a aliança de diamantes?

          Eliminando a ambigüidade: Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes a qual estava sobre a cama.

          Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes o qual estava sobre a cama.
          Observação: Neste exemplo, pelo fato de os substantivos estojo e aliança pertencerem a gêneros diferentes, resolveu-se o problema substituindo os substantivos por o qual/a qual. Se pertencessem ao mesmo gênero, haveria necessidade de uma reestruturação diferente.
Má Colocação de Pronomes, Termos, Orações ou Frases
  1. Aquela velha senhora encontrou o garotinho em seu quarto.
  2. O garotinho estava no quarto dele ou da senhora?
  3. Eliminando a ambigüidade: Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dela.
  4. Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dele.
  5. Ex.: Sentado na varanda, o menino avistou um mendigo.
  6. Quem estava sentado na varanda: o menino ou o mendigo?
  7. Eliminando a ambigüidade: O menino avistou um mendigo que estava sentado na varanda.
  8. O menino que estava sentado na varanda avistou o mendigo.
2. FRASES SIAMESAS
Leia a frase:
A garota estava apavorada teria de enfrentar o pai furioso.
          Este tipo de frase, denominada siamesa, em analogia irmãs ou a irmãos siameses (crianças que nascem unidas por uma parte do corpo), caracteriza-se por apresentar idéias ligadas incorretamente, ou seja, frases distintas, que possuem enunciado completo, são apresentadas como se fossem uma só, por não haver elemento de ligação entre elas, como sinais de pontuação ou conectivos.
Veja como fica a frase acima, se eliminarmos o problema:
1ª opção: usar sinais de pontuação.
A garota esta apavorada; teria de enfrentar o pai furioso.
A garota estava apavorada. Teria de enfrentar o pai furioso.

2ª opção: usar conectivos coordenativos.
A garota estava apavorada, mas teria de enfrentar o pai furioso.
A garota estava apavorada, pois teria de enfrentar o pai furioso.

3ª opção: usar conectivos subordinativos.
Como teria de enfrentar o pai furioso, a garota estava apavorada.
A garota estava apavorada, porque teria de enfrentar o pai furioso.

3. FRASES SEGMENTADAS
Leia a frase:
a) O padre dirigia-se à sacristia. Quando chegou um bando de crianças barulhentas.
     A frase segmentada caracteriza-se por apresentar-se separada incorretamente, pois é marcada por um ponto que separa enunciados incompletos.
   Veja como fica a frase acima, se eliminarmos o problema:
          O padre dirigia-se à sacristia, quando chegou um bando de crianças barulhentas.
b) A garota chegara de Capri. Uma pequena ilha do sul da Itália.
Veja como fica a frase correta:
      A garota chegara de Capri, uma pequena ilha do sul da Itália.
Observação:
É importante para a clareza de seu texto que você não construa tais tipos de frases. A melhor maneira é a leitura atenta para evitar problemas, resolvidos, muitas vezes, com um simples sinal de pontuação, com conectivos adequados ou com a alteração da ordem dos termos.