Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

sábado, 29 de setembro de 2012

Os gêneros do discurso



Já nos disse Bakhtin, filósofo russo, que todas as esferas de atividade humana estão ligadas pela palavra. E que cada esfera destas produz seus repertórios de discursos relativamente estáveis (os gêneros do discurso).
Este enunciado que pode nos parecer difícil pode ser explicado da seguinte maneira. Cada um de nós, ao longo de nosso dia-a-dia, através de nosso cotidiano, nos deparamos com uma infinidade de tipos de discursos, ou seja, com tipos de textos.
Conhecemos todos eles através da prática.
Produzimos e lemos em todos os momentos da nossa vida textos escolares, literários, jornalísticos, pessoais, oficiais, e ainda reconhecemos em cada um as suas características próprias. Quero dizer que cada tipo de texto possui sua característica, sua forma, sua materialidade.
A estrutura de determinado tipo de texto pode ser mais flexível ou menos, aos mais flexíveis chamamos informais, pode ser uma carta para a mãe, um bilhete que escrevemos escondido durante uma aula chata, um bate papo na internet, ou a fala corriqueira entre as pessoas. Já aos textos menos flexíveis, que são mais rigorosos na sua estrutura, chamamos textos formais, são os ofícios (declaração, solicitação, contrato, etc.), os textos literários, os científicos, os jornalísticos, etc. Em suma, estes últimos são os textos que não aceitam, ou aceitam pouco, as mudanças nas regras de sua construção. Alguns textos formais, dependendo do seu contexto, podem ficar informais, como é o caso do texto literário, que se situaria no campo da formalidade, porém se lêssemos as narrativas modernas, perceberíamos a tentativa de fugir do padrão principalmente depois dos modernistas.
Além dos textos formais e informais, temos os tipos de textos verbais e não-verbais. Os primeiros são aqueles predominantemente escritos. Com a palavra como meio de compreensão. São os tipos de textos mais aceitos como textos. Porém também há os textos não-verbais que se caracterizam ou pela oralidade, pelo som, ou pela visão. Um exemplo de texto oral é a música, que podemos chamar de textos, pois tem um autor que a direciona ao leitor, ou ouvinte; as músicas são produzidas geralmente com um sentido; têm um contexto e tem uma estrutura material. Mesmo as músicas que não tem letra foram produzidas seguindo rigorosas regras, produzindo uma sensação, produzindo um sentido. Quem compõe música sabe disso, não é possível produzir uma sem seguir as regras deste tipo de texto.
Além da música, que é um tipo de texto sonoro, podemos classificar como texto também a pintura, um texto visual. Cada autor tem sua forma de se expressar através de um quadro. O traçado, a cor, a forma, tudo isso direciona um sentido para a pintura. Temos como tipos de texto a dança, que têm a música e o movimento a seu favor, podemos dizer as mesmas coisas que dissemos aos anteriores dela. A dança, a música e o quadro são tipos de textos não-verbais, pois para os compreendermos não lemos pa-la-vras, escritas nem ouvidas, mas o movimento, a pintura e o som organizados são importantes para se inferir os significados.
A possibilidade de se produzir ou se compreender um texto é infinita devido às infinidades de tipos de textos, ou seja, de gêneros do discurso que existem ao longo da sociedade. Se estamos deprimidos, por exemplo, podemos escolher um dentre um repertório enorme que conhecemos destes tipos de textos. Escolheremos de acordo com a situação, com a necessidade, com nossas facilidades em escrever tal ou tal tipo de texto. A minha depressão pode ser expressa através de uma carta de suicídio, ou de uma mensagem no meu blog, ou de um grito de lamento, ou um poema.
Também a minha vontade de passar no vestibular, por exemplo, pode ser expressa através da leitura de textos didáticos de diferentes ramos do conhecimento humano. O fato de eu estar estudando vai me fazer escrever mais dissertação do que poema. Já que eu sei que a prova vai me exigir mais aquele gênero do discurso do que este. Porém a mesma prova vai exigir que eu tenha lido tal livro de poesia, pois está como leitura obrigatória.
Dependendo do meu papel na sociedade, ou dos meus interesses eu vou me manifestando com tantos tipos de textos que eu precisar, por isso torna-se tão importante conhecermos e compreendermos cada característica de tipos de texto diversos. A minha vida e as atividades humanas das quais eu participo vão determinar a minha fluência ou não para cada texto. Texto e contexto se desenrolam com a nossa vida. Uma existe para a outra assim como a palavra para o escritor, ou o traçado para o pintor, ou o som para o compositor. Texto e contexto transformam nossa através dos tipos relativamente estáveis de texto, em suma, através dos gêneros do discurso.
Por: Eduardo Eide Nagai
Fonte: http://meuartigo.brasilescola.com/os-generos-discurso

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Minicurso: Gêneros Textuais e Ensino de Língua Portuguesa: da Teoria à Prática



VIII  -  Jornada Pedagógica do ISEP

Minicurso: Gêneros Textuais e Ensino de Língua Portuguesa: da Teoria à Prática
Com: José Antonio Ferreira da Silva

Este minicurso tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a teoria e a prática do trabalho com gêneros textuais para o ensino de língua materna. Para tanto, apresentaremos, inicialmente, uma reflexão a respeito dos conceitos de Bakhtin sobre os gêneros discursivos e de Bazerman sobre os gêneros textuais. Em seguida discutiremos sequências didáticas, faremos proposições de atividades práticas analíticas e de elaboração de materiais didáticos para o trabalho com gêneros textuais nas aulas de língua portuguesa.

Bibliografia:

            BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

BAZERMAN, Charles. Gênero, agência e escrita. São Paulo: Cortez Editora, 2006.

______. Gêneros textuais, tipificação e interação. 3ª. ed., São Paulo: Cortez Editora, 2009.

______. Escrita, gênero e interação social. São Paulo: Cortez Editora, 2007.

DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

KARWOSKI, M. A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

MASCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.