Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

sexta-feira, 23 de março de 2012

Coesão Textual

"A coesão não nos revela a significação do texto, revela-nos a construção do texto enquanto edifício semântico."

--M. Halliday

A metáfora acima representa de forma bastante eficaz o sentido de coesão, assim como as partes que compõem a estrutura de um edifício devem estar bem conectadas, bem “amarradas”, as várias partes de uma frase devem se apresentar bem “amarradas”, para que o texto cumpra sua função primordial ? veículo de articulação entre o autor e seu leitor.

A coesão é essa “amarração” entre as várias partes do texto, ou seja, o entrelaçamento significativo entre declarações e sentenças. Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical e a gramatical.

A coesão lexical é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos e formas elididas. Já a coesão gramatical é conseguida a partir do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.

Seguem alguns exemplos de coesão:

  1. Perífrase ou antonomásia - expressão que caracteriza o lugar, a coisa ou a pessoa a que se faz referência

Ex.: O Rio de Janeiro é uma das cidades mais importantes do Brasil. A cidade maravilhosa é conhecida mundialmente por suas belezas naturais, hospitalidade e carnaval.

  1. Nominalizações - uso de um substantivo que remete a um verbo enunciado anteriormente. Também pode ocorrer o contrário: um verbo retomar um substantivo já enunciado.

Ex.: A moça foi declarar-se culpada do crime. Essa declaração, entretanto, não foi aceita pelo juiz responsável pelo caso. / O testemunho do rapaz desencadeou uma ação conjunta dos moradores para testemunhar contra o réu.

  1. Palavras ou expressões sinônimas ou quase sinônimas - ainda que se considere a inexistência de sinônimos perfeitos, algumas substituições favorecem a não repetição de palavras.

Ex.: Os automóveis colocados à venda durante a exposição não obtiveram muito sucesso. Isso talvez tenha ocorrido porque os carros não estavam em um lugar de destaque no evento.

  1. Repetição vocabular - ainda que não seja o ideal, algumas vezes há a necessidade de repetir uma palavra, principalmente se ela representar a temática central a ser abordada. Deve-se evitar ao máximo esse tipo de procedimento ou, ao menos, afastar as duas ocorrências o mais possível, embora esse seja um dos vários recursos para garantir a coesão textual.

Ex.: A fome é uma mazela social que vem se agravando no mundo moderno. São vários os fatores causadores desse problema, por isso a fome tem sido uma preocupação constante dos governantes mundiais.

  1. Um termo síntese - usa-se, eventualmente, um termo que faz uma espécie de resumo de vários outros termos precedentes, como uma retomada.

Ex.: O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher uma enorme quantidade de formulários, que devem receber assinaturas e carimbos. Depois de tudo isso, ainda falta a emissão dos boletos para o pagamento bancário. Todas essas limitações acabam prejudicando as relações comerciais com o Brasil.

  1. Pronomes - todos os tipos de pronomes podem funcionar como recurso de referência a termos ou expressões anteriormente empregados. Para o emprego adequado, convém rever os princípios que regem o uso dos pronomes.

Ex.: Vitaminas fazem bem à saúde, mas não devemos tomá-las sem a devida orientação. / A instituição é uma das mais famosas da localidade. Seus funcionários trabalham lá há anos e conhecem bem sua estrutura de funcionamento. / A mãe amava o filho e a filha, queria muito tanto a um quanto à outra.

  1. Numerais - as expressões quantitativas, em algumas circunstâncias, retomam dados anteriores numa relação de coesão.

Ex.: Foram divulgados dois avisos: o primeiro era para os alunos e o segundo cabia à administração do colégio. / As crianças comemoravam juntas a vitória do time do bairro, mas duas lamentavam não terem sido aceitas no time campeão.

  1. Advérbios pronominais (classificação de Rocha Lima e outros) - expressões adverbiais como aqui, ali, lá, acolá, aí servem como referência espacial para personagens e leitor.

Ex.: Querido primo, como vão as coisas na sua terra - Aí todos vão bem - / Ele não podia deixar de visitar o Corcovado. Lá demorou mais de duas horas admirando as belezas do Rio.

  1. Elipse - essa figura de linguagem consiste na omissão de um termo ou expressão que pode ser facilmente depreendida em seu sentido pelas referências do contexto.

Ex.: O diretor foi o primeiro a chegar à sala. Abriu as janelas e começou a arrumar tudo para a assembléia com os acionistas.

  1. Repetição de parte do nome próprio - Machado de Assis revelou-se como um dos maiores contistas da literatura brasileira. A vasta produção de Machado garante a diversidade temática e a oferta de variados títulos.

  1. Metonímia - outra figura de linguagem que é bastante usada como elo coesivo, por substituir uma palavra por outra, fundamentada numa relação de contigüidade semântica.

Ex.: O governo tem demonstrado preocupação com os índices de inflação. O Planalto não revelou ainda a taxa deste mês.

sexta-feira, 16 de março de 2012

BARROCO NO BRASIL

O marco inicial do Barroco brasileiro é o poema épico, Prosopopeia de Bento Teixeira (1601). Há dúvidas quanto à origem do poeta, estudos literários recentes afirmam que ele nasceu em Portugal, porém viveu grande parte de sua vida no Brasil, em Pernambuco.

PROSOPOPÉIA é um poema épico com 94 estrofes, que exalta Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco. Bento Teixeira imita Camões de maneira infeliz, sua obra é cansativa e tem apenas valor histórico.

CONTEXTO HISTÓRICO DO BARROCO BRASILEIRO

O Barroco domina durante todo o século XVII e metade do século XVIII, até 1768.

Na literatura desenvolveu-se na Bahia e nas artes plásticas (esculturas) em Minas gerais

Com as obras do Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), e na pintura do Mestre Ataíde.

BARROCO BRASILEIRO

*Movimento artístico e filosófico que surge com o conflito entre a Reforma Protestante e a Contra Reforma. Seu objetivo era propagar a religião através de uma arte de impacto, sinuosa, enfeitada ao extremo.Arte altamente contraditória.

A origem da palavra ?barroco? é obscura, hipóteses têm sido consideradas mais aceitáveis: ?barroco? era o adjetivo que designava certas pérolas de superfície irregular e preço inferior.De qualquer forma há um valor depreciativo na palavra, que durante muito tempo foi usada para indicar uma arte e uma literatura ?bizarra?, ?extravagante.?

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LITERATURA BARROCA

O homem dividido entre o desejo de aproveitar a vida e o de garantir um lugar no céu.

Conflito existencial gerado pelo dilema do homem dividido entre o prazer pagão e a fé religiosa.

Antropocentrismo x Teocentrismo (homem X Deus, carne X espírito).

Detalhismo e rebuscamento- a extravagância e o exagero nos detalhes.

Contradição- é a arte do contraditório, onde é comum a idéia de opostos: bem X mal, pecado X perdão, homem X Deus.

Linguagem rebuscada e trabalhada ao extremo, usando muitos recursos estilísticos e figuras de linguagem e sintaxe, hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos, para melhor expressarem a comparação entre o prazer passageiro da vida e a vida eterna.

Regido por duas filosofias: Cultismo e Conceptismo. Cultismo é o jogo de palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas. Conceptismo são os jogos de raciocínio e de retórica que visavam melhor explicar o conflito dos opostos.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES DO BARROCO BRASILEIRO

POESIA

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA nasceu em Salvador, em 1663, estudou em Coimbra, exerceu cargos de magistratura em Portugal até, 1681, quando voltou definitivamente para o Brasil, provavelmente fugindo de inimigos angariados por suas poesias satíricas. Na Bahia, voltou a sofrer perseguições devido a suas sátiras. Por isso ganhou o apelido de Boca do Inferno ou Boca de Brasa

TEMAS DA POESIA GREGORIANA:

POESIA RELIGIOSA: mostra o autor envolvido pelo sentimento de culpa e de arrependimento, implorando perdão.

POESIA SATÍRICA: mostra a crítica severa de uma sociedade marcada pela mediocridade e pela desonestidade, nasce de um sujeito lírico que adota um ponto de vista conservador e preconceituoso. Seus poemas satíricos renderam-lhe o apelido de Boca do Inferno.

POESIA ERÓTICA: mostra o uso de palavrões e alusões obscenas, mesmo em textos sutis onde a ambiguidade aparece repleta de safadeza.

A PROSA BARROCA BRASILEIRA

PADRE ANTÔNIO VIEIRA nasceu em Lisboa, em 1608, chegou ao Brasil e se instalou em Salvador, iniciando seu noviciado na Companhia de Jesus.Efetivou uma política de defesa dos cristãos ?novos, procurando protegê-los da Inquisição em Portugal.

Sua extensa obra reflete seu envolvimento nos debates sociais e políticos de Portugal e do Brasil no século XVII. Os sermões e cartas, além de temas especificamente religiosos também manifestam questões polêmicas da época como: a luta pela independência portuguesa,, o confronto com holandeses no nordeste, a escravidão índia e negra, a defesa dos judeus e cristãos-novos contra a intolerância da Inquisição.

OBRAS: CARTAS E SERMÕES ? Sermão da Sexagésima , Sermão de Santo Antônio aos peixes e outros.

Sua obra é notável pelo manuseio da expressão verbal, são textos riquíssimos em imagens, jogos de significado e conceitos, metáforas, e ricos em recursos lingüísticos.

Para a literatura, sua importância foi fundamental. Vieira fixou a prosa na língua portuguesa nos mesmos padrões de realização artística a que Camões fixou a poesia, transformando-se num clássico da língua.

O mais conhecido sermão de Vieira, o Sermão da Sexagésima é uma conclusão de que a palavra de Deus vinha obtendo poucos resultados porque os pregadores estavam mais aplicados em obter efeitos literários do que moralizantes, o que transformava os sermões em vazios estéticos.

Vieira compara a estrutura do sermão à estrutura de uma árvore? A árvore da vida?, onde as partes constituintes da árvore, todas relacionadas às partes do sermão.(troncos, ramos,folhas, varas, flores, frutos) numa ordem simetricamente inversa a seguir(frutos, flores, varas, folhas , ramos e tronco. Lendo-se cuidadosamente percebe-se o ritmo das frases e a cadência do texto. Era uma peça para ser exposta oralmente.

sexta-feira, 9 de março de 2012

QUINHENTISMO

O Quinhentismo foi o primeiro movimento literário no Brasil. Em relação aos demais, sua importância é um tanto quanto menos expressiva na literatura, por não apresentar nenhum escritor brasileiro; ou, ainda, nenhum "escritor". Apesar disso, muitos dos maiores vestibulares do país pedem que seus vestibulandos tenham conhecimento desta matéria. Além disso, serve também como conhecimento geral para aqueles que gostam do assunto. O movimento iniciou-se com o "ínicio" do Brasil (sim, eu sei. O Brasil existia antes do descobrimento, mas para a literatura, assim como para muitas outras coisas, sua história começa quando os portugueses chegam ao país). Seu fim foi marcado pela publicação de Prosopopéia, de Gonçalves de Magalhães, que já tinha algumas tendências barrocas.

O Descobrimento das Américas marca, antes de mais nada, a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. A Europa vive o auge do Renascimento, o capitalismo mercantil toma o lugar dos feudos, e o êxodo rural provoca o início da urbanização. Houve também, neste período, uma crise na Igreja: o novo grupo dos protestantes contra o grupo dos fiéis católicos (estes últimos no movimento da Contra-Reforma). Durante a maioria deste período, o Brasil era colonizado por Portugal. Os documentos eram escritos por jesuítas e colonizadores portugueses; o primeiro autor brasileiro apareceria, mais tarde, somente no movimento barroco, Gregório de Matos.

Momento sócio-cultural

· Início da exploração da colônia: extração de pau-brasil e do cultivo da cana-de-açúcar.

· Expedições de exploração e reconhecimento da nova terra.

· Vinda dos jesuítas: trabalho de catequese dos índios e formação dos primeiros colégios.

Características literárias

· Literatura de caráter documental sobre o Brasil de cronistas e viajantes estrangeiros.

· Literatura "pedagógica" dos jesuítas, visando à catequese dos índios.

Autores e obras

Carta de Pero Vaz de Caminha ("certidão de nascimento" do Brasil)

Literatura de informação

· Pero Magalhães Gândavo: História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil

· Gabriel Soares de Sousa: Tratado descritivo do Brasil

Literatura de catequese

· Padre Manuel da Nóbrega: Diálogo sobre a conversão do gentio.

· Padre José de Anchieta: Na festa de São Lourenço (peça teatral), Poema à Virgem (de tradição medieval)