Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

IX Jornada Pedagógica do ISEP

Minicurso:
DO PROJETO A MONOGRAFIA: LEITURA E PRODUÇÃO DE GÊNEROS ACADÊMICOS

Teremos a oportunidade de refletir sobre aplicação sistemática das técnicas de elaboração da pesquisa científica, no que diz respeito ao levantamento bibliográfico, formulação de hipóteses, estudo de variáveis, coleta de dados, etc. Veremos, ainda, as estratégias de pesquisa na rede e identificação de fontes diversas em ambientes virtuais de aprendizagem. Iremos refletir sobre a importância da leitura; conhecer as especificidades da escrita acadêmica; identificar as principais características dos gêneros acadêmicos (projeto de pesquisa, resumo, resenha, artigo científico, monografia), inteirando-se de sua adequação, estrutura textual e linguagem apropriada; conhecer as normas da ABNT e aplicá-las na formatação de gêneros acadêmicos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO E O PARÁGRAFO

TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos argumentativos, juntamente com o texto de apresentação científica, artigos de opinião e etc...

É uma modalidade de texto em que se defende um ponto de vista, ou seja, persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto.Nele a argumentação é importante, uma vez que apresenta fundamentos para sustentar a tese.

Quando o produzimos, devemos observar certas normas de organização bastante particulares. Em geral, para se obter maior clareza na exposição do ponto de vista, organiza-se em três partes:

·         Introdução: apresenta-se a ideia ou o ponto de vista que será defendido;

·         Desenvolvimento ou argumentação: desenvolve-se o ponto de vista (para convencer o leitor, é preciso usar uma sólida argumentação, citar exemplos, recorrer a opiniões de especialistas, fornecer dados, etc);

·         Conclusão: dá-se um fecho coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados. Por suas características, o texto argumentativo requer:
·         Uma linguagem mais sóbria, denotativa.
·         O uso da figura de linguagem deve ser com valor argumentativo.
·         As orações devem se dispor, de preferência, em ordem direta.
·         É preferível o uso da terceira pessoa, caracterizando o texto argumentativo objetivo.
·         O texto argumentativo não apresenta uma progressão temporal;
·         Os conceitos são genéricos, abstratos e, em geral não se prendem a uma situação de tempo e espaço. Por isso os verbos no presente.
·         Trabalha-se com períodos compostos, com o encadeamento de ideias;
·         Nesse tipo de construção, o adequado emprego dos conectores (preposições, conjunções e pronomes relativos) é fundamental para obter um texto claro, coerente, coeso e elegante.

Referência:



O parágrafo: formas para você começar um texto

Um texto é normalmente organizado em unidades menores, chamadas parágrafos.
Um parágrafo pode ser formado por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. Constam-se estruturar-se em torno de uma ideia-núcleo, que é desenvolvida por ideias secundárias.
Além da ideia-nucelo e das ideias secundárias, a estrutura padrão de um parágrafo apresenta também uma conclusão.
Ao escrever seu primeiro parágrafo, você pode fazê-lo de forma criativa. Ele deve atrair a atenção do leitor. Por isso, evite os lugares-comuns como: atualmente,hoje em dia, desde épocas remotas, o mundo de hoje, a cada dia que passa, no mundo em que vivemos, na atualidade.
Listamos aqui algumas formas de começar um texto.

1. UMA DECLARAÇÃO (TEMA: LIBERAÇÃO DO USO DA MACONHA)

É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
A declaração é a forma mais comum de começar um texto. Procure fazer uma declaração forte, capaz de surpreender o leitor.

2.DEFINIÇÃO (TEMA: O MITO)

O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é,de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo,fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.
A definição é uma forma simples e muito usada em parágrafos-chave, sobretudo em textos dissertativos. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o primeiro parágrafo.
3. UMA PERGUNTA (TEMA: A SAÚDE NO BRASIL)
Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar.
A pergunta não é respondida de imediato. Ela serve para despertar a atenção do leitor para o tema e será respondida ao longo da argumentação.

4. COMPARAÇÃO (TEMA: REFORMA AGRÁRIA)

O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Como na época da abolição da escravidão existiam elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária.

Para introduzir o tema da reforma agrária, o autor comparou a sociedade de hoje com a do final do século XIX, mostrando a semelhança de comportamento entre elas.

5. ALUSÃO HISTÓRICA (TEMA: GLOBALIZAÇÃO)

Após a queda do muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição.
O conhecimento dos principais fatos históricos ajuda a iniciar um texto. O leitor é situado no tempo e pode ter uma melhor dimensão do problema.

6. CITAÇÃO (TEMA: POLÍTICA DEMOGRÁFICA)

"As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora". O comentário do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo.
A citação inicial facilita a continuidade do texto, pois ela é retomada pela palavra comentário da segunda frase.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
CEREJA, Willian R. MAGALHÃES, Cochar T. Português linguagens volume 3 . 7 ed. Reform. – São Paulo : Saraiva, 2010
Site:  

domingo, 29 de setembro de 2013

Entrevista com Pierre Lévy: Internet e escola de mãos dadas

Os livros e cadernos, aos poucos, estão sendo substituídos por tablets. O quadro negro, que depois ficou branco, agora é digital. As aulas podem ser assistidas a distância. E a tarefa de casa pode ser feita numa rede social. O que antes parecia coisa de filme futurista tornou-se realidade.
Pierre Levy
A tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, assim como na educação. Antes de isso tudo tornar-se tão evidente, o filósofo francês Pierre Lévy já defendia a teoria da inteligência coletiva e da cibercultura. Para ele, estamos vivendo o início de uma transformação cultural, em que a forma de construir o conhecimento é colaborativa. Lévy explica que os educadores precisam mergulhar na cultura digital, para compreender o universo dos estudantes. Além disso, ele salienta que os professores devem usar as ferramentas virtuais em benefício da educação, explorando suas singularidades e dando mais espaço para que os estudantes participem mais ativamente do processo de ensino-aprendizagem. Durante o V Congresso Internacional Conexão RCE (Rede Católica de Educação), realizado em Brasília, o filósofo conversou com a revista Gestão Educacional sobre as mudanças que precisam ser aplicadas na educação.
Gestão Educacional: Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado no cenário econômico mundial. Infelizmente, no aspecto educacional, a situação está longe do patamar dos países desenvolvidos. Como educar para o futuro nesse cenário?
Pierre Lévy: Fico impressionado como os brasileiros têm uma ideia negativa do seu próprio país. Primeiramente, o Brasil está se transformando na quinta potência econômica do mundo, com uma taxa de crescimento muito elevada. Sim, tem analfabetismo, mas, apesar disso, há um esforço importante focado na educação. E sempre que eu venho para cá, vejo uma porção de profissionais focados, esforçados para trabalhar com educação, da educação infantil ao ensino médio. São pessoas que têm a consciência de que o futuro está nesse investimento em educação e em conhecimento. Então, não fiquem desesperados. Continuem com esse entusiasmo extraordinário que vocês têm. Claro, há problemas. E nós temos que resolvê-los com as ferramentas de hoje e com a visão do futuro. As pessoas precisam acreditar no hoje. E muitos professores têm essa visão.
Gestão Educacional: Quais são as dificuldades de usar ferramentas digitais em sala de aula?
Pierre Lévy: Não há obstáculos. Todos os estudantes têm uma habilidade extraordinária para usar esse tipo de ferramenta. Agora, os professores têm que conhecer tão bem quanto as crianças. Sobretudo, isso tem que ser utilizado numa ótica de aprendizagem colaborativa. Eu acredito que o professor precisa se capacitar, porque ele só pode ensinar aquilo que ele domina. Eu não acredito na formação do professor apenas para usar as redes sociais. O professor também tem que se esforçar. Utilizar isso para si próprio. É só uma questão de entrar nessa cultura. E de implementar o know-howpedagógico utilizando essas ferramentas.
Gestão Educacional: Podemos dizer, então, que a forma de ensinar mudará nos próximos anos?
Pierre Lévy: Sim, estamos no início de uma grande transformação cultural. Hoje, nós podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo. O banco de dados da internet funciona como uma biblioteca única de todo o mundo. E nós podemos usar essas informações, que podem estar em outros idiomas, porque já há ferramentas que traduzem tudo para nós. Esses três processos eu chamo de ubiquidade, interconexão e manipulação automática de símbolos. Essa é a nova situação que vivemos. Isso está ligado à educação, porque temos que preparar os alunos para essa nova realidade. Mas temos que nos preparar antes de ensinar.
Gestão Educacional: E o que seria a gestão da atenção? E como ela contribui para diminuir a chamada sobrecarga cognitiva?
Pierre Lévy: A gestão da atenção não é algo que começou com as ferramentas digitais. A disciplina mental, aprender a concentrar-se, é algo que sempre foi útil e que deve também ser aplicado com essas ferramentas. Não é possível estar diante de uma tela de computador e, de uma hora para outra, esquecer o que se está fazendo e ir fazer outra coisa, de qualquer jeito. Diante do computador, é necessário controlar a sua mente e se concentrar num objetivo de aprendizagem e de colaboração. A sobrecarga cognitiva é realmente um problema falso porque é o mesmo que dizer que há livros demais em uma biblioteca. Muitos livros não provocam uma sobrecarga cognitiva. Você aprende a utilizar os arquivos da biblioteca, as fichas, a escolher um livro mais adequado com seu objetivo e você lê esse livro. A gente não vai começar a ler a primeira página, depois buscar outro livro. Na plataforma on-line acontece o mesmo. É a responsabilidade pessoal que faz a diferença.
Gestão Educacional: Mas muitos professores reclamam que os alunos ficam dispersos diante do computador ou do celular.
Pierre Lévy: Bom, eu também tenho alunos e quando eu dou aula, eles ficam olhando para o celular também. Eu sou super severo. Eu proíbo que eles olhem o celular durante a aula. Mas, em certo momento da aula, eu digo: “pronto, agora vocês podem olhar o celular”. E todos eles olham. Eu também passo um exercício. Eles podem “tuitar” alguma coisa ou eles têm que buscar alguma coisa no Google, no Wikipédia. Depois eu digo que acabou e é hora de desligar o computador e desligar o telefone. A gente precisa aprender quando ligar e desligar o aparelho, utilizando-o conscientemente. É um domínio de si próprio, uma disciplina. E essa disciplina já tem que ser ensinada desde a escola primária.
Gestão Educacional: Algumas escolas já usam o tablet como material obrigatório, substituindo livros e cadernos. Até que ponto é indispensável que cada aluno tenha o seu computador em sala de aula?
Pierre Lévy: É muito difícil manter as antigas ferramentas de leitura e de escrita durante muito tempo. Então, daqui a alguns anos, eu prevejo que o material escolar de hoje será substituído por tablet. Mas não o tablet de hoje, mas o tablet de amanhã, no qual nós teremos todos os manuais didáticos, as ferramentas de escrita, de pesquisa. Um tablet como ferramenta de trabalho. Um tablet que permita fazer anotações nas margens de livros. Coisas assim que ainda são um pouco difíceis hoje em dia. Vai ser algo mais leve e, possivelmente, até custe mais barato. Agora, uma sala de aula é difícil imaginar. A gente nem sabe como vai ficar essa noção de sala de aula completamente. Porque são questões muito complexas. Isso é um processo em curso.
Gestão Educacional: Em vários estados brasileiros, os professores estão recebendo computadores ou tablets. O que o senhor acha disso?
Pierre Lévy: Isso é muito bom. A gente não pode ensinar aquilo que a gente não sabe. Não dá pra ensinar se a gente não domina.
Gestão Educacional: As novas tecnologias podem prejudicar?
Pierre Lévy: Não. As novas mídias não têm impacto negativo. O impacto negativo acontece quando as pessoas estão expostas a coisas negativas. O problema não é a internet. É a falta de disciplina mental. Seria o mesmo que dizer que as estradas são malvadas porque matam gente. Não, na verdade são as pessoas que dirigem mal.
Gestão Educacional: Mas alguns alunos hoje já têm dificuldade de escrever, porque lidam mais com a digitação.
Pierre Lévy: Aprender a escrever é importante, claro. O que ocorre é o mesmo [que acontecia] quando as pessoas começaram a ter calculadoras. Antes, todos faziam o cálculo mental. Hoje, ficam sem saber se não tiverem a calculadora do lado. No futuro, a maioria das pessoas vai escrever e ler com essa nova ferramenta.
Gestão Educacional: Como o senhor usa as redes sociais com os seus alunos?
Pierre Lévy: Por exemplo, todos os meus alunos têm Facebook. Mas geralmente eles não conhecem a funcionalidade grupo. O que fazemos é o seguinte: formamos um grupo e, a cada semana, cada um tem que postar alguma coisa. Um vídeo, um link relacionado ao tema da aula. Os outros têm que ler o que o colega enviou e comentar, discutir junto. Então, eles alimentam o grupo e eles aprendem a discutir. Se um postar alguma coisa que o outro já postou, ele fica com uma nota ruim porque significa que ele não prestou atenção nos outros. Também não pode fazer uma pergunta que já foi respondida. Eu tento ensinar a economia na comunicação para que não percam tempo. São coisas assim, que se tornam úteis.
Gestão Educacional: Isso seria a inteligência coletiva?
Pierre Lévy: Sim. A própria internet é uma memória de produção coletiva. De certa forma, isso sempre existiu, porque o que conhecemos hoje é uma herança do que já foi feito. A escola do futuro será a escola social, onde a aprendizagem será colaborativa. Não é que a escola de hoje deixará de existir. É uma camada que complementa a outra. Logo, temos que educar visando esse novo comportamento, através de uma pedagogia de aprendizagem coletiva permanente.
Gestão Educacional: E como os professores podem orientar os alunos?
Pierre Lévy: Primeiro, devem ensinar sobre responsabilidade social para a memória coletiva. Tudo o que você posta na internet contribui para a memória coletiva. Segundo, é preciso ter um espírito crítico. Os alunos devem saber separar as fontes boas e as fontes ruins, porque um mesmo evento pode ser contado de diversas formas. Depois vem a gestão da atenção, como já citei. Outra coisa importante é a necessidade de produzir para assimilar. É a transformação da informação em conhecimento.
Gestão Educacional: Como serão os alunos do futuro?
Pierre Lévy: Serão pessoas criativas, abertas, colaborativas e, ao mesmo tempo, terão a capacidade de se concentrar, porque terão uma mente disciplinada. É necessário ter um equilíbrio entre dois aspectos: o primeiro é a imensidão de informações, contatos, colaborações. O outro é o aspecto de planejamento, realização de projetos, disciplina mental.

domingo, 15 de setembro de 2013

Produção de texto: como ensinar os alunos a escrever de verdade

Para produzir textos de qualidade, seus alunos têm de saber o que querem dizer, para quem escrevem e qual é o gênero que melhor exprime essas ideias. A chave é ler muito e revisar continuamente

Thais Gurgel (novaescola@atleitor.com.br)Colaborou Tadeu Breda

TEXTOS DE QUALIDADE  Editorial, biografia, fábula e conto. Para redigir textos com significado, alunos de São Paulo, do Recife e do Rio de Janeiro leram o gênero estudado e aprenderam a planejar o que vão produzir e a revisar o material antes que ele possa circular entre colegas e familiares. Foto: Marcos Rosa
TEXTOS DE QUALIDADE  Editorial, biografia, fábula e conto. Para redigir textos com significado, alunos de São Paulo, do Recife e do Rio de Janeiro leram o gênero estudado e aprenderam a planejar o que vão produzir e a revisar o material antes que ele possa circular entrecolegas e familiares
Narração, descrição e dissertação. Por muito tempo, esses três tipos de texto reinaram absolutos nas propostas de escrita. Consenso entre professores, essa maneira de ensinar a escrever foi uma das principais responsáveis pela falta de proficiência entre nossos estudantes. O trabalho baseado nas famosas composições e redações escolares tem uma fragilidade essencial: ele não garante o conhecimento necessário para produzir os textos que os alunos terão de escrever ao longo da vida. "Nessa abordagem, ninguém  considerava quem seriam os leitores. Não havia a ref lexão sobre a melhor estratégia para colocar uma ideia no papel", resume Telma Ferraz Leal, da Universidade Federal de Pernambuco.
Para aproximar a produção escrita das necessidades enfrentadas no dia-a-dia, o caminho atual é enfocar o desenvolvimento dos comportamentos leitores e escritores. Ou seja: levar a criança a participar de forma eficiente de atividades da vida social que envolvam ler e escrever. Noticiar um fato num jornal, ensinar os passos para fazer uma sobremesa ou argumentar para conseguir que um problema seja resolvido por um órgão público: cada uma dessas ações envolve um tipo de texto com uma finalidade, um suporte e um meio de veiculação específicos. Conhecer esses aspectos é condição mínima para decidir, enfim, o que escrever e de que forma fazer isso. Fica evidente que não são apenas as questões gramaticais ou notacionais (a ortografia, por exemplo) que ocupam o centro das atenções na construção da escrita, mas a maneira de elaborar o discurso (leia o texto da página 3).
Há outro ponto fundamental nessa transformação das atividades de produção de texto: quem vai ler. E, nesse caso, você não conta. "Entregar um texto para o professor é cumprir tarefa", argumenta Fernanda Liberali, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Escrever não é fácil. Para que o aluno fique estimulado com a proposta, é preciso que veja sentido nisso." O objetivo é fazer com que um leitor ausente no momento da produção compreenda o que se quis comunicar - e esse desafio requer diferentes aprendizagens.

O primeiro passo é conhecer os diversos gêneros. Mas é preciso atenção: isso não significa que os recursos discursivos, textuais e linguísticos dos contos de fadas e da reportagem, por exemplo, sejam conteúdos a apresentar aos alunos sem que eles os tenham identificado pela leitura, como ressalta Delia Lerner no livro Ler e Escrever na Escola. Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir verbalmente as diferentes estruturas textuais. De acordo com a pesquisadora em didática, cabe a todo professor permitir que as crianças adquiram os comportamentos do leitor e do escritor pela participação em situações práticas e não "por meras verbalizações".

Ensinar a produzir textos nessa perspectiva prevê abordar três aspectos principais: a construção das condições didáticas, a revisão e a criação de um percurso de autoria, como se pode ver a seguir.
Continue lendo a reportagem

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Como usar as redes sociais a favor da aprendizagem


Conheça a melhor forma de se relacionar com a turma nas redes sociais e saiba como o Facebook, o Orkut ou o Twitter podem ser aliados do processo de aprendizagem


Você sabe quantos de seus alunos possuem perfis no Orkut, no Facebook ou no Google +? Já experimentou fazer uso dessas redes sociais para disponibilizar materiais de apoio ou promover discussões online?
Cada vez mais cedo, as redes sociais passam a fazer parte do cotidiano dos alunos e essa é uma realidade imutável. Mais do que entreter, as redes podem se tornar ferramentas de interação valiosas para auxiliar no seu trabalho em sala de aula, desde que bem utilizadas. "O contato com os estudantes na internet ajuda o professor a conhecê-los melhor", afirma Betina von Staa, pesquisadora da divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática. "Quando o professor sabe quais são os interesses dos jovens para os quais dá aulas, ele prepara aulas mais focadas e interessantes, que facilitam a aprendizagem", diz.

Se você optou por se relacionar com os alunos nas redes, já deve ter esbarrado em uma questão delicada: qual o limite da interação? O professor deve ou não criar um perfil profissional para se comunicar com os alunos? "Essa separação não existe no mundo real, o professor não deixa de ser professor fora de sala, por isso, não faz sentido ele ter dois perfis (um profissional e outro pessoal)", afirma Betina. "Os alunos querem ver os professores como eles são nas redes sociais".

Mas, é evidente que em uma rede social o professor não pode agir como se estivesse em um grupo de amigos íntimos. "O que não se pode perder de vista é o fato de que, nas redes sociais, o professor está se expondo para o mundo", afirma Maiko Spiess, sociólogo e pesquisador do Grupo de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Ele tem que se dar conta de que está em um espaço público frequentado por seus alunos". Por isso, no mundo virtual, os professores precisam continuar dando bons exemplos e devem se policiar para não comprometerem suas imagens perante os alunos. Os cuidados são de naturezas diversas, desde não cometer erros de ortografia até não colocar fotos comprometedoras nos álbuns. "O mais importante é fazer com que os professores se lembrem de que não existe tecnologia impermeável, mas comportamentos adequados nas redes", destaca Betina von Staa.

A seguir, listamos cinco formas de usar as redes sociais como aliada da aprendizagem e alguns cuidados a serem tomados:

1. Faça a mediação de grupos de estudo
Convidar os alunos de séries diferentes para participarem de grupos de estudo nas redes - separados por turma ou por escolas em que você dá aulas -, pode ajudá-lo a diagnosticar as dúvidas e os assuntos de interesse dos estudantes que podem ser trabalhados em sala de aula, de acordo com os conteúdos curriculares já planejados para cada série.
Os grupos no Facebook ou as comunidades do Orkut podem ser concebidos como espaços de troca de informações entre professor e estudantes, mas lembre-se: você é o mediador das discussões propostas e tem o papel de orientar os alunos.
Todos os participantes do grupo podem fazer uso do espaço para indicar links interessantes ou páginas de instituições que podem ajudar em seus estudos. "A colaboração entre os alunos proporciona o aprendizado fora de sala de aula e contribui para a construção conjunta do conhecimento" explica Spiess.

2. Disponibilize conteúdos extras para os alunos

As redes sociais são bons espaços para compartilhar com os alunos materiais multimídia, notícias de jornais e revistas, vídeos, músicas, trechos de filmes ou de peças de teatro que envolvam assuntos trabalhados em sala, de maneira complementar. "Os alunos passam muitas horas nas redes sociais, por isso, é mais fácil eles pararem para ver conteúdos compartilhados pelo professor no ambiente virtual", diz Spiess.
Esses recursos de apoio podem ser disponibilizados para os alunos nos grupos ou nos perfis sociais, mas não devem estar disponíveis apenas no Facebook ou no Orkut, porque alguns estudantes podem não fazer parte de nenhuma dessas redes. Para compartilhar materiais de apoio e exercícios sobre os conteúdos trabalhados em sala, é melhor utilizar espaços virtuais mais adequados, como a intranet da escola, o blog da turma ou do próprio professor.

3. Promova discussões e compartilhe bons exemplos
Aproveitar o tempo que os alunos passam na internet para promover debates interessantes sobre temas do cotidiano ajuda os alunos a desenvolverem o senso crítico e incentiva os mais tímidos a manifestarem suas opiniões. Instigue os estudantes a se manifestarem, propondo perguntas com base em notícias vistas nas redes, por exemplo. Essa pode ser uma boa forma de mantê-los em dia com as atualidades, sempre cobradas nos vestibulares.

4. Elabore um calendário de eventos
No Facebook, por meio de ferramentas como "Meu Calendário" e "Eventos", você pode recomendar à sua turma uma visita a uma exposição, a ida a uma peça de teatro ou ao cinema. Esses calendários das redes sociais também são utilizados para lembrar os alunos sobre as entregas de trabalhos e datas de avalições. Porém, vale lembrar: eles não podem ser a única fonte de informação sobre os eventos que acontecem na escola, em dias letivos.

5. Organize um chat para tirar dúvidas 
Com alguns dias de antecedência, combine um horário com os alunos para tirar dúvidas sobre os conteúdos ministrados em sala de aula. Você pode usar os chats do Facebook, do Google Talk, do MSN ou até mesmo organizar uma Twitcam para conversar com a turma - mas essa não pode ser a única forma de auxiliá-los nas questões que ainda não compreenderam.
A grande vantagem de fazer um chat para tirar dúvidas online é a facilidade de reunir os alunos em um mesmo lugar sem que haja a necessidade do deslocamento físico. "Assim que o tira dúvidas acaba, os alunos já podem voltar a estudar o conteúdo que estava sendo trabalhado", explica Spiess.

Cuidados a serem tomados nas redes
- Estabeleça previamente as regras do jogo
Nos grupos abertos na internet, não se costuma publicar um documento oficial com regras a serem seguidas pelos participantes. Este "código de conduta" geralmente é colocado na descrição dos próprios grupos. "Conforme as interações forem acontecendo, as regras podem ser alteradas", diz Spiess. "Além disso, começam a surgir lideranças dentro dos próprios grupos, que colaboram com os professores na gestão das comunidades". Com o tempo, os próprios usuários vão condenar os comportamentos que considerarem inadequados, como alunos que fazem comentários que não são relativos ao que está sendo discutidos ou spams.

- Não exclua os alunos que estão fora das redes sociais
Os conteúdos obrigatórios - como os exercícios que serão trabalhados em sala e alguns textos da bibliografia da disciplina - não podem estar apenas nas redes sociais (até mesmo porque legalmente, apenas pessoas com mais de 18 anos podem ter perfis na maioria das redes). "Os alunos que passam muito tempo conectados podem se utilizar desse álibi para convencer seus pais de que estão nas redes sociais porque seu professor pediu", alerta Betina.
A mesma regra vale para as aulas de reforço. A melhor solução para esses casos é o professor fazer um blog e disponibilizar os materiais didáticos nele ou ainda publicá-los na intranet da escola para os alunos conseguirem acessar o conteúdo recomendado por meio de uma fonte oficial.
Com relação aos pais, vale comunicá-los sobre a ação nas redes sociais durante as reuniões e apresentar o tipo de interação proposta com a turma.
Quer saber mais?
Facebook for Educators (em inglês) - manual elaborado pelos profissionais do Facebook para auxiliar professores a usar as redes sociais

sábado, 27 de julho de 2013

O desafio de ler e compreender em todas as disciplinas

Levar os alunos a entender tudo o que leem exige explorar diferentes gêneros e procedimentos de estudo. Para ser bem-sucedido na tarefa, é necessário o envolvimento dos professores de todas as disciplinas

Rodrigo Ratier
|< < Página de > >|
No Brasil, um em cada dez brasileiros com 15 anos ou mais não sabe ler e escrever. Uma vergonha que encobre outras realidades não tão evidentes, mas igualmente dramáticas. Como o fato de que dois terços da população entre 15 e 64 anos é incapaz de entender textos longos, localizar informações específicas, sintetizar a ideia principal ou comparar dois escritos. O problema não é reflexo apenas de baixa escolarização: segundo dados do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, mesmo considerando a faixa de pessoas que cursaram de 5ª a 8ª série, apenas um quarto delas é plenamente alfabetizado. A conclusão é que, na escola, os alunos aprendem a ler - mas não compreendem o que leem.

É preciso virar esse jogo. Num mundo como o atual, em que os textos estão por toda a parte, entender o que se lê é uma necessidade para poder participar plenamente da vida social. Professores como você têm um papel fundamental nessa tarefa (leia o infográfico abaixo). Independentemente de seu campo de atuação, você pode ajudar os alunos a ler e compreender diferentes tipos de texto, incentivando-os a explorar cada um deles. Pode ensiná-los a fazer anotações, resumos, comentários, facilitando a tarefa da interpretação. Pode, enfim, encaminhá-los para a escrita, enriquecida pelos conhecimentos adquiridos na exploração de livros, revistas, jornais, filmes, obras de arte e manifestações culturais e esportivas.
O primeiro passo é firmar um compromisso: ensinar a ler é tarefa de todas as disciplinas, não apenas de Língua Portuguesa. É essa ideia que norteia esta edição especial de NOVA ESCOLA. Em todas as áreas, há aproximações possíveis com o tema. "Um professor de História deve ensinar que muitos textos da área têm uma estrutura cronológica e que é necessário identificá-la para entender a informação. O de Ciências precisa discutir como ler as instruções de experiências e ensinar a produzir relatórios, e o de Matemática, a interpretar problemas. A alfabetização plena requer que os estudantes saibam compreender e produzir textos específicos das disciplinas", explica a pesquisadora espanhola Isabel Solé, uma das maiores autoridades do mundo quando o assunto é leitura (leia a entrevista).
Foto: Paulo Vitale
Foto: Paulo Vitale
UM GRANDE ENCONTRO
No diálogo entre o estudante e o texto, o professor tem um papel importante para criar condições de interpretação
O aluno
Leitor Ativo
  
Toda criança é um leitor que realiza um esforço cognitivo para processar e atribuir significado ao que está escrito. Com isso, interpreta.
Conhecimentos prévios  Tudo o que um estudante sabe antes de ler compõe os chamados esquemas de pensamento, que influenciam o que ele compreende.

O professor
Contexto de produção  
Quem é o autor? Em que época escreveu? Quais suas possíveis intenções? Cabe ao professor ajudar cada aluno a enxergar esses aspectos.
Contexto de leitura  Para que lemos um texto? Estabelecer um objetivo claro (considerando o que a turma já sabe) é fundamental para dar sentido à tarefa.

O texto
Forma
  Por possuir estruturas diferentes, cada gênero desperta expectativas distintas. Explorar suas características oferece pistas para antecipar a interpretação.
Conteúdo  Para motivar, o tema deve estar ligado aos interesses de quem lê. E o professor de cada disciplina tem de direcionar o olhar da turma para aspectos específicos de sua área.
Ensinar estratégias que os leitores experientes usam
Antes de começar, vale a pena refletir um pouco sobre a tarefa à sua frente. Você já se perguntou o que significa ensinar alguém a ler? Mais que isso: o que é ler? Um passeio pela origem da palavra ajuda a esclarecer. Do latim lego, "ler" significa, entre outras coisas, "colher" e "roubar". O primeiro termo aponta para um tipo de leitura em que o sentido do texto já está pronto, totalmente determinado. Ao leitor, caberia só captar - colher - o que o autor quis dizer. A essa concepção, dominante até pelo menos os anos 1970, contrapõe-se a indicada pelo segundo termo. "Roubar", no caso, equivale a dizer que o autor deixa de ser dono absoluto do que escreve: com base no que lê e em seus saberes prévios, o leitor também constrói sentidos.

Por essa perspectiva, os textos nunca dizem tudo: para se completarem, dependem da interpretação de quem os lê. Essa ideia, presente na maioria dos estudos mais recentes sobre o tema, não significa que o leitor seja livre para atribuir todos os sentidos que quiser. É aqui que entra o ensino: cabe ao professor fornecer indícios para a compreensão - algo essencial, ainda mais considerando que os estudantes são, em sua maioria, leitores em formação. "Progressivamente, cada um estabelece um diálogo próprio com o texto - e a leitura se torna autônoma", afirma Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Encaminhar a turma para entender o que lê inclui ensinar uma série de estratégias de que o leitor experiente lança mão inconscientemente quando se depara com um texto. Uma das mais essenciais diz respeito aos objetivos de leitura: por que estou lendo isso? A resposta a essa questão influi muito na maneira como o faz: se é por prazer, pode ler na cama, pular as partes chatas e até desistir. Se a intenção é estudar as ideias do autor, provavelmente terá um lápis à mão e, compenetrado, registrará os conceitos mais importantes. Agora, se quer encontrar, digamos, uma estatística importante, basta passar os olhos, localizar o número, anotá-lo em algum lugar e fechar o livro.

Também é comum explorar o texto antes de ler. No caso de um livro, vale passear pela capa, explorar a biografia do autor na orelha e dar uma olhada no índice. No jornal, títulos, subtítulos e fotos captam a atenção. Ao mesmo tempo, cada um compara o que está escrito com seus conhecimentos (o que sei sobre o conteúdo do texto?) e se indaga: o que espero encontrar aqui?

No momento da leitura, todo leitor confirma ou retifica suas expectativas sobre o que imaginou encontrar. Também se interroga continuamente para saber se entende o que lê (qual a ideia fundamental do texto? Captei os argumentos principais?). Nesse processo, talvez abra o dicionário para procurar o significado de uma palavra desconhecida - ou, se decidir que ela não é central para sua compreensão, simplesmente segue em frente. No fim, dependendo dos objetivos (lembra-se deles?), pode escrever uma síntese do que leu ou incorporar trechos para uma apresentação. Ou, ainda simplesmente acolher outros pontos de vista que também contribuam para a interpretação.
Estes servem para todos…
Dois procedimentos de estudo ajudam a leitura em todas as áreas e devem ser ensinados por todo o corpo docente
COMPLEMENTO Grifos podem destacar palavrasessenciais para a compreensão. Já as anotações desenvolvem, com mais detalhes, o que o conceito em evidência significa
COMPLEMENTO Grifos podem destacar palavras essenciais para a compreensão. Já as anotações desenvolvem, com  mais detalhes, o que o conceito em  evidência significa. Clique para ampliar
Anotação e sublinhado  Antes de sair grifando ou anotando, cada aluno deve ter claro o motivo da tarefa. Se a opção é destacar apenas as palavras-chave, anotações à margem podem comentar o que o termo escolhido expressa. Já se a intenção é revelar argumentos, por exemplo, os grifos devem destacar ideias completas. É essencial, ainda, que você oriente a turma a ler o texto todo antes de anotar (fica mais fácil perceber o que é relevante) e não grifar trechos enormes (com tudo destacado, o destaque perde a função). Além disso, nem todos os parágrafos têm passagens importantes.

SEM CÓPIA Estruturas como a da foto, com destaque para os blocos significativos do texto, auxiliam alunos iniciantes e evitam que os resumos virem transcrições
SEM CÓPIA Estruturas como a da foto, com  destaque para os blocos significativos  do texto, auxiliam alunos iniciantes e evitam que os resumos virem transcrições. Clique para ampliar
Resumo  Ao produzir textos que sintetizem os originais, uma alternativa é dividir o escrito nos blocos em que ele se estrutura (num texto opinativo, uma classificação possível é apresentação do tema, argumentação, conclusão e possíveis sugestões de solução). Considerar esses blocos ajuda a evitar o problema das cópias desenfreadas: você pode propor uma estrutura de resumo com algumas frases que os conectem (veja na foto). Conforme a turma avança, você pode ir suprimindo essas passagens até que a escrita seja, de fato, autônoma.
Propósitos, procedimentos, gêneros e sequências
Esta edição pretende mostrar como é possível ajudar a construir essa rota. Com foco na leitura para aprender - também chamada de leitura de estudo e trabalho, a que mais exige disciplina e organização -, ela está dividida nas oito disciplinas das séries finais do Ensino Fundamental: Arte, Ciências, Educação Física, Geografia, História, Língua Estrangeira, Língua Portuguesa e Matemática. Os exemplos estão ligados a tarefas do 6º ao 9º ano, fase da escolarização básica em que os textos ganham complexidade e passam a representar um desafio crescente.

As reportagens estão separadas por disciplina e, dentro de cada uma, há uma divisão em cinco blocos: a concepção de leitura na área, os gêneros privilegiados (alguns, como imagens, esportes e obras de arte, não são escritos, mas também é preciso ensinar a lê-los), uma sequência didática, caminhos para desenvolver habilidades antes, durante e depois do contato com os textos e procedimentos de estudo - gêneros escritos que funcionam bem para a recuperação de ideias significativas ou para uma compreensão mais aprofundada. Dois deles - as anotações e os sublinhados e os resumos -, por serem úteis ao entendimento de quase todos os tipos de texto, aparecem nesta apresentação. Outros oito surgem nas disciplinas em que são mais usuais. É um erro partir do pressuposto de que a moçada já sabe sublinhar e fazer esquemas. É necessário ensinar isso tudo.

Para completar, 20 casos reais de professores em escolas de todo o país mostram exemplos de bons trabalhos em relação à leitura - prova de que levar todos os alunos a compreender o que leem pode ser difícil, mas é possível. Mudar as estatísticas mostradas no primeiro parágrafo está ao alcance de todos os professores, de todas as disciplinas. 
Quer saber mais?
CONTATO
Claudio Bazzoni, bazzoni@uol.com.br

BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever: Compromisso de Todas as Áreas, Neiva Otero Schaffer (org.), 232 págs., Ed. UFRGS,
tel. (51) 3308-5644 (edição esgotada)
Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed,
tel. 0800-703-3444, 36 reais

INTERNET
Em portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Anonimo?Publica_FundII.aspx, os Referenciais de Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no Ciclo II do Ensino Fundamental. 

terça-feira, 30 de abril de 2013

Gramática, pra que te quero?!


Ouvir alunos do ensino fundamental e médio esbravejarem frases do tipo "Eu detesto português", ou "Eu já sei português, então pra que serve isso?" ou, pior, "Eu não sei português!" é algo muito comum no cotidiano dos professores de Língua Portuguesa. Sim, Língua Portuguesa, pois a aula não deveria ser de gramática, mas de Língua viva, real, do dia a dia. O português das gramáticas parece um idioma sem vida, empoeirado, algo que não se pode alcançar, de difícil acesso. Digo isso, pois é o que eu vejo no rosto de cada aluno meu quando tenho que repassar as regras para que eles possam ter êxito em concursos, por exemplo.
Acredito que pelo fato de saber um pouco mais sobre as temíveis nomenclaturas gramaticais eu me torne um ser admirável, de grande sapiência; às vezes, percebo no olhar da minha turma, formada por adultos, alguns bem mais velhos do que eu, um ar de fascínio ao mostrar a eles que há um tal sujeito oculto que difere do sujeito indeterminado, sendo que o sujeito é considerado um termo essencial da oração. Mas como ele pode ser essencial se, muitas vezes, não está lá? E o que dizer dos exercícios mecânicos e repetitivos de ortografia sobre o uso do "G" e do "J"? Mas deixemos de gramatiquices...
A pergunta que não quer calar é: por que insistem em cobrar regras, cheias de exceções? E os porquês? Na fala ele é apenas um, mas na escrita ele se desdobra em quatro. Talvez seja por isso que escrever de acordo com a norma padrão culta, para muitos, transforme-se em um grande tormento, uma prática surreal. Ter que lembrar qual tipo de "porque" usar, com certeza, destrói a inspiração de qualquer um. Talvez seja por isso, também, que os grandes escritores digam ter sido alunos não tão bons na disciplina e que hoje recorram aos revisores de textos para darem conta dessas estranhezas gramaticais.
Deveríamos, então, valorizar menos as regras e focar o ensino na prática de textos coerentes e coesos, pois do que adianta decorar uma lista de conjunções se na prática o "e" de adição pode funcionar também como adversativo? Que tal estudar gramática em textos reais e não em frases soltas expostas na lousa?
De que adianta os compêndios gramaticais instruírem que o verbo namorar é transitivo direto, ou seja, não aceita a preposição "com", se 10 entre 10 falantes dizem que a fofoca da semana é que aquela famosa namora com o galã mais cobiçado do país? E a magia de dizer que você prefere mil vezes a comida da sua mãe do que a daquele restaurante caro e badalado? Mas "preferir mil vezes" e usar "do que" é um erro crasso para muitos gramáticos.
Às vezes, chego a pensar que falar segundo a gramática normativa deixa a vida sem cor, sem emoção. Não dá para expressar muito sentimento dizendo no PB (português brasileiro) "Amo-te": parece que a ênfase está no "te" e não no ato de amar. Deve ser por isso que a licença poética existe e os artistas abusam e usam dos desvios gramaticais. Nesta ocasião, lembro-me do poema Evocação do Recife, do modernista Manuel Bandeira:
"[...] A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada [...]"
E já pensaram se o famoso jingle de uma marca de iogurte seguisse a norma padrão? Ficaria assim: "Dá-me, dá-me, dá-me, dá-me um Danoninho...". No mínimo estranho, não é? E a linda canção do poeta Cazuza, famosa na voz da saudosa Cássia Eller, ficaria "Quem sabe eu ainda seja uma garotinha ...". Não soou bem, não acham? É por isso que Renato Russo poetizou "[...] eu canto em português errado [...]": será mesmo? Isso porque a gramática normativa, ao pé da letra, se distancia muito da nossa fala corriqueira. E dá para acreditar que há alguns professores que insistem em utilizar tais gêneros para fazerem análises gramaticais?
Mas, respondendo à pergunta feita no título: bom, como já dito, ela ainda é muito solicitada em provas avaliativas em todo o país e questões sobre regência, concordância, uso da crase e dos porquês, que tanto atormentam aqueles alunos mencionados no início do texto, insistem em aparecer como forma de mensurar seu conhecimento sobre a nossa "última flor do Lácio, inculta e bela" - verso escrito, inclusive, por Olavo Bilac, que valorizava a arte pela arte e não a norma pela norma; pois, se assim fosse, com certeza a "última flor do Lácio" seria "muito culta e nada bela".
Assim, a função ímpar da escola precisa ser o de formar leitores e escritores competentes, escritores que saibam produzir textos além da mecânica redação para vestibulares, leitores capazes de compreender enunciados diversos e textos do dia a dia. Então, torcemos para que os professores saibam adequar as propostas de leitura ao seu público alvo e que os clássicos da Literatura sejam apreciados com deleite e não por imposição.
Logo, faz-se necessário adotar novas práticas de ensino e métodos didáticos eficientes: ambos devem ser prioritários para uma disciplina tão relevante no currículo escolar. Dessa forma, teremos estudantes apaixonados pela nossa língua, que por ser tão nasalizada merece o status de "língua do dengo", e não temida e repudiada pelas enfadonhas conjugações verbais e análise sintática.
*Carla Cunha é graduada em Letras/Inglês pela Universidade Salvador (UNIFACS), pós-graduanda em Gramática e Texto e tutora de disciplinas EaD e semipresenciais da UNIFACS.
Fonte: 

sábado, 27 de abril de 2013

Como avaliar os níveis de leitura na alfabetização de crianças




RETRATO
Ziraldo 

Nascido em 1932, Ziraldo Alves Pinto é um dos mais conhecidos cartunistas do Brasil, famoso principalmente pela criação do personagem Menino Maluquinho e de sua turma. Ziraldo tornou-se referência na literatura infanto-juvenil e é admirado como chargista também pelo público adulto.
RETRATO
Foucambert
Jean Foucambert é um professor francês, responsável pelo serviço de pesquisa no INRP (Instituto Nacional de Pesquisa Pedagógica) da França e um dos criadores da Associação Francesa pela Leitura (AFL). Propõe o termo leiturização como uma leitura crítica, não mera junção de termos.
“Ler é mais importante que estudar”.
A frase tem o respaldo de quem sabe o que está falando – Ziraldo, um dos mais bem sucedidos escritores de livros infantis no Brasil. Unem-se a Ziraldo outros escritores e educadores de expressão, como Monteiro Lobato, com sua já famosa frase “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”, e Jean Foucambert, que diz que os “Alunos devem ser leiturizados, e não alfabetizados”.
O que tanto pais quanto educadores precisam ter sempre em mente – especialmente nos primeiros anos da alfabetização – é que aprender a ler não é o mesmo que aprender a decodificar as letras e conhecer a estrutura da língua; ler bem envolve a criação de uma relação profunda entre escrita e pensamento, que precisa ser tão natural quanto a relação entre a fala e o pensamento.
Para garantir que a alfabetização (ou a “leiturização”, como sugere Foucambert) está sendo efetiva, é necessário que adultos na escola e em casa assumam ativamente a posição de pesquisadores, analisando a evolução dos alunos para descobrir eventuais deficiências e poder saná-las o mais cedo possível.
Para tanto, é necessário que o professor ou responsável (que será chamado aqui de “pesquisador” por questão de simplicidade) tenha noção que a leitura se dá em pelo menos três níveis:
Leitura Objetiva: Trata-se do nível mais básico de leitura, o famoso “be-a-bá”, onde o estudante aprende a decodificar as letras e montar palavras e frases. Quando iniciando neste nível, a criança consegue reconhecer palavras e explicar o significado de frases curtas, sendo capaz de falar dos elementos explícitos do texto. À medida em que evolui, o aluno melhora seu domínio do texto, aumentando o vocabulário e reconhecendo elementos de ligação, sendo inclusive capaz de reconhecer eventuais falhas de coerência na história. Já na transição para o nível de leitura inferencial está a capacidade de situar o texto no ambiente em que ele ocorre, o contexto espacial e temporal da história.
Leitura Inferencial: Quando atinge este nível, o estudante se torna capaz de reconhecer não apenas o que está escrito, mas também deduzir elementos implícitos no texto. É o chamado infratexto, aquele conjunto de informações que todo bom leitor apreende sem se dar conta, mas que na verdade estão apenas sugeridos na história. Como esta capacidade inferencial está intimamente ligada à bagagem de conhecimento do leitor, ela se amplia conforme a quantidade de leituras realizadas, até que se chega finalmente ao nível da leitura avaliativa.
Leitura Avaliativa: Leitores que estão neste nível têm a capacidade não só de ler o texto e responder questões sobre o que está explicitamente ou implicitamente sendo dito, mas também de fazer conexões com outros textos e informações sobre os temas tratados aprendidas de outras fontes. É o que os pedagogos chamam de intertexto, e que no fundo é a capacidade do leitor de dar sua opinião do leitor sobre o texto baseada em suas experiências anteriores.
Quando avaliando o nível de leitura de um estudante ou uma turma de estudantes, o pesquisador deve tomar o cuidado de propor atividades que sejam lúdicas, em um ambiente natural e sem cobranças, até porque é essencial que a criança reconheça o hábito da leitura como algo prazeroso desde seus primeiros contatos com a língua escrita.
PARTINDO PARA A AVALIAÇÃO 
Nesta linha, uma boa dica é realizar estas atividades em quatro etapas:
Etapa de Motivação: Nesta etapa, o pesquisador deve se dedicar exclusivamente a estimular a curiosidade da criança sobre o texto a ser lido. Para isso, uma ótima tática é mostrar a capa do livro e o título do livro e perguntar ao estudante como ele acha que é a história do livro. Se não houver uma resposta objetiva, é possível mostrar algumas ilustrações ou dar sua opinião, sempre buscando mostrar o quão divertida deve ser aquela história. As perguntas que o pesquisador pode fazer nesta etapa são tipicamente inferenciais a partir do título e imagens da capa do livro, como: “Veja só este título, o que esta história deve contar?”, “Se você escrevesse uma história com este título, como ela seria?”, “Quem você acha que é o personagem principal desta história?”, “Onde será que esta história acontece?” e outras do gênero.
É essencial que o educador também leia, não apenas para dar o exemplo do que ensina, mas para auxiliar, assim, o desenvolvimento do gosto pela leitura no educando
Etapa de Leitura: Nesta etapa a criança deve ser deixada à vontade para ler o livro, sem pressa e sem nenhum tipo de comparação com outras crianças. Quando lendo na escola, devem ser evitadas questões como “Quem já acabou de ler?” para que os que leem mais lentamente não se sintam constrangidos ou compelidos a mentir sobre sua evolução; antes, o professor deve ir de aluno em aluno, acompanhando com os olhos e registrando em suas anotações aqueles que demoram mais tempo para poder realizar atividades de reforço nos momentos apropriados.
Etapa de Avaliação do Nível de Leitura: É neste momento que o pai ou professor deve agir mais ativamente como pesquisador, de forma a poder avaliar o nível de leitura da criança e poder dar atividades apropriadas a este nível. No caso dos professores, é essencial registrar as observações de forma a permitir que seja dada a atenção adequada a cada criança. Nesta etapa devem ser sugeridas atividades que iniciam nos níveis mais básicos de leitura, indo de maneira crescente até os níveis mais sofisticados - lembrando que as crianças não devem sentir que estão sendo cobradas ou avaliadas, mas sim que estão participando de uma conversa descontraída sobre o livro que leram.
Comumente, as perguntas do pesquisador devem, inicialmente, tratar dos elementos explícitos do livro, e ser bem objetivas, como, por exemplo: “Qual o nome do personagem principal?”, “Que idade tem ele?” ou “Qual é o bicho que é vizinho do sapo?”.
Gradualmente, as perguntas devem contemplar elementos menos explícitos no texto, chegando àqueles que podem ser inferidos a partir do que está escrito. Nesta parte, as perguntas começam a voltar-se mais para a opinião do leitor, como em “O que você acha que os pais das crianças descobriram no bosque, que fez com que eles ficassem tão espantados?”, “Que idade deve ter Aninha?” ou “Qual será a cor do bicho-folha?”.
Por fim, as perguntas devem chegar ao nível da leitura avaliativa, levando os alunos a darem sua opinião sobre os assuntos, explorando possibilidades e verificando sua capacidade de cruzar informações das histórias com informações de outras fontes. Nesta linha, perguntas comuns seriam: “Como será viver na terra em que vive o Papai Noel, onde faz tanto frio que a chuva congela e vira neve?”, “Alguém conhece outra história, ou alguma piada, que também fale sobre sapos?”, “Quem já viu algum filme que conte uma história parecida?”. Conforme as respostas, seguem-se perguntas: “Você acha que esta outra história se parece com a outra? Por quê?”, “Qual a diferença do sapo desta história para o sapo da outra?”, “A casa do Papai Noel deste filme se parecia com a do livro?”.
Fase de Consolidação dos Resultados: O trabalho do professor ou pai como pesquisador só se conclui com a consolidação dos resultados, porque, mesmo em se tratando de avaliar apenas uma criança, raramente se consegue uma posição definitiva com a leitura de apenas um livro. À medida que as forças e fraquezas da leitura da criança se tornam evidentes, cabe ao educador estimular a criança elogiando seus pontos fortes e trabalhando sutilmente seus pontos fracos, de forma a garantir sua formação como leitor independente.
Em um país onde o hábito de leitura ainda não faz parte da rotina de grande parte da população, os educadores devem conscientizar-se de que sua responsabilidade não é meramente alfabetizar as crianças, mas sim desenvolver nelas o gosto pela leitura que levarão pelo resto de suas vidas.
Para isso é essencial que o educador - seja ele o professor ou o responsável - também seja um leitor, não só porque a criança aprende muito pelo exemplo, mas também porque é impossível imitar o brilho no olhar daqueles que verdadeiramente amam a leitura, este brilho que é a maior inspiração no desenvolvimento destes novos leitores.
Nunca é tarde para descobrir o prazer da leitura... Então, qual foi o último livro que você leu, simplesmente pelo prazer de ler?
Por Alexandre Lobão é escritor, roteirista e realizador de Workshops de Escrita de Ficção. Informações: http://www.alexandrelobao.com |http://escritacriativa.net/3Wef