Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DO ETHOS RELIGIOSO EM BLOGS: UM OLHAR DISCURSIVO.














4º Simpósio Hipertexto – UFPE

Comunicação Individual – Artigo: A CONSTRUÇÃO DO ETHOS RELIGIOSO EM BLOGS: UM OLHAR DISCURSIVO.
RESUMO:
Como todas as manifestações da criação ideológica banham-se no discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separada dele (BAKHTIN, 2010), acreditamos que os elementos linguísticos são pistas discursivas que textualizam ideologias subjacentes a sua formação. Com o discurso religioso não é diferente. Entendemos que o campo religioso utiliza os espaços midiáticos como instância de realizações da atualização da questão da fé, ou seja, as instituições religiosas percebem os meios de comunicação não somente como instrumentos, mas organizam-se a partir dos recursos estruturais dos gêneros do discurso, sociointeragindo para apropriar-se dos meios que legitimem suas ideologias. Partindo dessas considerações este artigo busca trazer algumas reflexões acerca do ethos religiosos propagado na internet através de blogs: católicos, evangélicos e espíritas; procurando observar e analisar como os enunciadores desse tipo de discurso persuadem, seduzem e atraem seus interlocutores. Para tanto, foram utilizados como embasamento teórico os pressupostos de Bakhtin (2011), no que diz respeito aos gêneros do discurso; de Bazerman (2007; 2009; 2011) no que se refere aos gêneros textuais; e de Maingueneau (2008a; 2008b; 2008c; 2008d; 2010; 2011) sobre a constituição do ethos discursivo.
PALAVRAS-CHAVES: Discurso. Ethos. Blogs.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Saussure, Benveniste, Bakhtin













O objeto de estudo da linguística é a língua. Estes três estudiosos nos apresentam pontos vista distintos a este respeito.
Para Saussure a língua é um sistema de signos que exprime ideias, um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo social para permitir o exercício desta faculdade pelos sujeitos. Ela é percebida como um produto acabado, depositado na mente do indivíduo para que viva em sociedade. Este estudioso é representante na filosofia da linguagem do Objetivismo Abstrato, que vê como centro orientador da língua o sistema linguístico, ou seja, o sistema de formas fonéticas, gramaticais, lexicais da língua. Língua, neste sentido, está fora do curso da comunicação verbal.
Bakhtin vai além desta visão, quando percebe a língua como um conjunto de vozes sociais, que se entrecruzam num processo contínuo, onde se formam novas vozes. Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada. “O centro organizador de toda comunicação, de toda expressão, não é o interior, mas o exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo”. É no social que se constroem os significados e a língua é atualizada. Bakhtin critica então, a posição filosófica da linguagem do Objetivismo Abstrato, por não considerar a enunciação monológica, por não considerá-la um produto acabado. Segundo ele, a língua, embora tenha uma relativa estabilidade, ela evolui, se atualiza juntamente com o contexto sócio-histórico. Ele critica também o Subjetivismo Idealista, porque não entende a fala como uma criação individual, que surge a partir de condições da vida psíquica do indivíduo. Entende que a palavra possui sempre um conteúdo/um sentido ideológico ou vivencial.
Para Benveniste, a língua é uma estrutura da qual o sujeito se apropria para se enunciar diante do outro. Sua concepção é de movimento, onde leva em conta o tempo e a intenção atualizada. Para ele língua inexiste sem troca ou expressão de pessoa. Em sua estrutura há a possibilidade de surgir à subjetividade, na relação eu/tu constituída.
De acordo com o contexto sócio-histórico, com interesses, valores, necessidades envolvidas sejam individuais ou grupais, quando a palavra é proferida, através de signos carregados de significados próprios, ela é compreendida em sua intenção no contexto de onde ela emergiu. Caso contrário ela não será interpretada de acordo com sua intenção. A fala, segundo Bakhtin, é sempre de natureza social, enquanto que para Saussure ela é um ato individual, de inteligência e de manifestação momentânea. Para este a palavra é valorizada na sua unicidade, no seu significado em si. Bakhtin, no entanto, entende a palavra como uma ponte, uma ligação entre o locutor e o ausente, carregada de conteúdo, sentido, valoração arbitrária. Ela se apoia no “eu” e no “outro” de maneira responsiva.
A enunciação, que se utiliza da fala, é rejeitada por Saussure, porque considera que apenas o sistema linguístico pode dar conta da língua. Bakhtin, entretanto a considera como um produto da interação social, onde o seu significado nunca coincide com o conteúdo verbal. As palavras ditas, muitas vezes estão impregnadas de coisas presumidas e não ditas, seja pela entonação, pelo silêncio entre elas, pela linguagem corporal. Muitas vezes o próprio contexto tem mais sentido do que a palavra.
Enunciação, de acordo com Benveniste, é única em seu ato. De acordo com o tempo (físico, crônico e linguístico), com a intenção, ela é atualizada. Seu ponto de referência é o sujeito, apesar de ser estruturalista, utilizando pronomes, verbos e o tempo, principalmente, para explicar a enunciação e o discurso na (inter) subjetividade. Para compreendermos melhor sua teoria é importante conhecer a divisão de tempo por ele feita. Tempo físico: visto como um contínuo linear, infinito, onde o sujeito mede-o de acordo com as suas emoções, com o ritmo de sua vida interior – é uma visão subjetiva de tempo; tempo crônico: é o tempo dos acontecimentos, que mede a vida pelos eventos, pelo calendário. Ele considera a vida uma sequência de acontecimentos - é uma visão objetiva de tempo; tempo linguístico: está ligado organicamente através do exercício da fala. Ele se define e se organiza em função do discurso, onde o presente é reinventado a cada ato individual – remete a uma subjetividade.
Na interação entre indivíduos são feitas enunciações que fazem parte de um diálogo. Esta relação dialógica para Bakhtin necessita da palavra (como material lingüístico) que no discurso transforma-se em enunciado, com sentido (considerando o contexto sócio-histórico). Só assim será possível ao indivíduo responder, confirmar, opor, rejeitar, confrontar a palavra do outro.
Para Benveniste só no discurso o pronome é carregado de significado, caso contrário ele é considerado uma forma vazia apenas (um dêitico). No discurso o “eu” fala com o “tu”. Há uma mudança de estado de acordo com a posição emissor-receptor: “quem fala para quem”? É também referida uma terceira pessoa no discurso através da língua: o “ele”, que pode ser outra pessoa (presente ou não), um livro comentado, uma questão política, uma representação de algo, etc. Na constituição de um discurso, composto de enunciados, a classe de palavras utilizadas é que marca a presença do sujeito que a utiliza – sua subjetividade. Ex: “Suponho que todos tenham descansado neste feriado”. “Ele conseguiu provocar minha curiosidade”.
O sujeito, envolvido nas interações e suas relações dialógicas, não é referido por Saussure, pelo fato de que ele estuda a língua em sua estrutura formal apenas. Ele inclui o social apenas do ponto de vista da convenção das regras do sistema linguístico.
Benveniste surge nesta época reintroduzindo o sujeito na linguagem, através de uma abordagem enunciativa. O sujeito (eu) é aquele que se coloca em relação ao outro (tu) de modo instintivo, natural nas suas interações, através da linguagem em todos os discursos. O “eu” como pronome, é designado a produzir em cada discurso uma nova pessoa. A subjetividade para Benveniste tem grande importância em seus estudos. Leva em conta a capacidade do locutor se propor como sujeito na e pela linguagem. Se a identidade do sujeito se constrói na relação com o Outro então, subjetividade remete a (inter) subjetividade. “Torno-me o que sou na medida em que me comunico, em que interajo com o Outro”. O “eu” influencia e é influencia pelo Outro (tu) de maneira contínua, onde ambos são sujeitos.
Bakhtin também inclui o sujeito em seus estudos. Para ele língua é interação e o sujeito é produzido pela sociedade através das interações que realiza durante toda sua vida. Nestas interações signos precisam ser interpretados, decodificados. Pelo fato de serem ideológicos, eles são fluidos, permitem a expressão de ideias, cruzam sentidos, são plurais. São “verdades” sociais que vão se resignificando de acordo com o contexto e seus discursos, requerendo para tal uma compreensão responsiva. O significado é então, construído na dinâmica da história e marcado pela diversidade de vivências, contradições, componentes de valoração, etc. E a significação não é dada pelo signo em si, mas pela reprodução, estabilização, pela potencialidade que a palavra apresenta em determinado contexto sócio-histórico.

Fonte: http://educandoatravesdalinguagem.blogspot.com.br/2011/06/saussure-benveniste-bakhtin.html