Novo episódio do Podcast Papo Filosófico

sábado, 10 de março de 2018

Alfabetizar na EJA: o que muda no planejamento das aulas?

Ensinar adultos exige cuidados. Não tratar os alunos como crianças é um dos pontos fundamentais para que o trabalho funcione 
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Os materiais utilizados para alfabetizar os pequenos não servem para os adultos

A defasagem na escolaridade leva muitos alunos a procurarem a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em geral, este público é atendido por professores formados para atuar no Ensino Fundamental e que costumam trabalhar paralelamente com as crianças das turmas regulares. Apesar de o currículo ser essencialmente o mesmo, quem frequenta a EJA já é adulto e busca outra finalidade com os estudos. Por isso, o professor precisa fazer adaptações na escolha dos temas, na abordagem e no tratamento que dá à turma. 

Segundo a Proposta Curricular em Educação Para Jovens e Adultos do Ministério da Educação, quem trabalha neste segmento deve conhecer os alunos "suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno e suas necessidades de aprendizagem". Respeitar a realidade do estudante é fundamental em todos os níveis de ensino, mas ganha uma importância ainda maior quando eles já são experientes. É preciso levar em conta a bagagem da turma. O papel do educador na EJA é, principalmente, o de ajudar o adulto a perceber mais sensivelmente o mundo que o cerca e ampliar o repertório dos alunos para que consigam solucionar questões do cotidiano com mais propriedade.
Segundo a Proposta Curricular em Educação Para Jovens e Adultos do Ministério da Educação, quem trabalha neste segmento deve conhecer os alunos "suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno e suas necessidades de aprendizagem". Respeitar a realidade do estudante é fundamental em todos os níveis de ensino, mas ganha uma importância ainda maior quando eles já são experientes. É preciso levar em conta a bagagem da turma. O papel do educador na EJA é, principalmente, o de ajudar o adulto a perceber mais sensivelmente o mundo que o cerca e ampliar o repertório dos alunos para que consigam solucionar questões do cotidiano com mais propriedade.

A professora Miriam Capitânio Macgnani, da EM Madre Celina Polci, em São Bernardo do Campo (SP), dá aulas para uma turma de 19 alunos que trabalham na construção civil. Eles fazem parte de um projeto da prefeitura e frequentam a escola durante o expediente para elevar o grau de escolaridade e aprimorar os conhecimentos da profissão. Além das aulas regulares, são acompanhados por um professor de nível técnico.

Para aproximar os conteúdos curriculares da realidade dos alunos, Miriam propôs uma pesquisa sobre diferentes tipos de construção e suas funções. Como muitos vivem em moradias irregulares, o impacto destes ambientes na sociedade, na natureza e na saúde dos estudantes é debatido em sala, com o apoio de fotos do acervo municipal.

Em outra ocasião, uma das estudantes, de 27 anos, contou que já estava na nona gestação apesar da pouca idade. Ciente que o tema era familiar ao resto do grupo, a professora preparou uma aula sobre métodos contraceptivos e saúde da mulher, que contou com boa participação da turma. "Contextualizo o conteúdo porque o aprendizado para eles têm que ser significativo, afinal buscam a escola para mudar a própria vida", explica a docente.

Muitos dos alunos de Miriam ainda não sabem ler. Para alfabetizá-los a Secretaria de Educação desenvolveu um material exclusivo. Na hora de propor aos alunos a escrita de uma lista de palavras, por exemplo, ela opta por termos relacionados ao cotidiano da construção civil. Esta é uma escolha importante, já que aquilo que é utilizado na alfabetização dos pequenos, como parlendas e listas com nomes de animais, não serve para os adultos. O trato infantilizado é, inclusive, um dos motivos que afastam os alunos da EJA da escola e pode ser apontado como uma das causas para a queda de 6% nas matrículas, revelada no último Censo Escolar. Uma dica é substituir estes textos por poesias ou letras de músicas conhecidas.

Assim como o planejamento das aulas é diferente, as dificuldades também mudam do Ensino Fundamental nas turmas regulares e nas turmas de EJA. Miriam observa que, ao contrário das crianças, os adultos têm mais medo de errar, principalmente na hora de formular hipóteses de escrita. Em entrevista à NOVA ESCOLA a pesquisadora Sandra Medrano, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (CEDAC), explicou que este receio tem um motivo. Em geral, este aluno tem mais dificuldade para compreender que escrever "errado" ou não conseguir ler todas as palavras é uma maneira de alcançar o acerto. A sugestão é que o professor mostre que o mais importante, no caso da alfabetização, é pensar sobre o sistema de escrita, o que inclui refletir e discutir sozinho e com os colegas quais letras usar e em que ordem, quais palavras são familiares e o que pode ser referência para escrever algo novo.
Por: Camila Camilo 

sábado, 13 de agosto de 2016

LINGUÍSTICA

A Linguística é concebida como a ciência que se ocupa do estudo acerca dos fatos da linguagem, cujo precursor foi Ferdinand de Saussure. 

Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos as palavras de André Martinet, acerca do conceito de Linguística:
“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como  o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se”.
MARTINET, André. Elementos de linguística geral. 8 ed. Lisboa: Martins Fontes, 1978.
O fundador destaciência foi Ferdinand de Saussure, um linguista suíço cujas contribuições em muito auxiliaram para o caráter autônomo adquirido por essa ciência de estudo. Assim, antes de retratá-las, constatemos um pouco mais acerca de seus dados biográficos:
Ferdinand de Saussure nasceu em 26 de novembro de 1857 em Genebra, Suíça. Por incentivo de um amigo da família e filólogo, Adolphe Pictet, deu início aos seus estudos linguísticos. Estudou Química e Física, mas continuou fazendo cursos de gramática grega e latina, quando se convenceu de que sua carreira estava voltada mesmo para tais estudos, ingressou-se na Sociedade Linguística de Paris. Em Leipzig estudou línguas europeias, e aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias, defendendo, posteriormente, sua tese de doutorado sobre o uso do caso genitivo em sânscrito, na cidade de Berlim. Retornando a Paris passou a ensinar sânscrito, gótico e alemão e filologia indo-europeia. Retornando a Genebra continuou a lecionar novamente sânscrito e linguística histórica em geral.
Na Universidade de Genebra, entre os anos de 1907 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre linguística, e em 1916, três anos após sua morte, Charles Bally e Albert Sechehaye, alunos dele, compilaram todas as informações que tinham aprendido e editaram o chamado Curso de Linguística Geral – livro no qual ele apresenta distintos conceitos que serviram de sustentáculo para o desenvolvimento da linguística moderna.  
Entre tais conceitos, tornam-se passível de menção alguns deles, tais como as dicotomias:
Língua X Fala
Esse grande mestre suíço aponta que entre dois elementos há uma diferença que os demarca: enquanto a língua é concebida como um conjunto de valores que se opõem uns aos outros e que está inserida na mente humana como um produto social, razão pela qual é homogênea, a fala é considerada como um ato individual, pertencendo a cada indivíduo que a utiliza. Sendo, portanto, sujeita a fatores externos.   
Significante X Significado
Para Saussure, o signo linguístico se compõe de duas faces básicas: a do significado – relativo ao conceito, isto é, à imagem acústica, e a do significante – caracterizado pela realização material de tal conceito, por meio dos fonemas e letras. Falando em signo, torna-se relevante dizer acerca do caráter arbitrário que o nutre, pois, sob a visão saussuriana, nada existe no conceito que o leve a ser denominado pela sequência de fonemas, como é o caso da palavra casa, por exemplo, e de tantas outras. Fato esses que bem se comprova pelas diferenças existentes entre as línguas, visto que um mesmo significado é representado por significantes distintos, como é ocaso da palavra cachorro (em português); dog(inglês); perro (espanhol); chien (francês) e cane (italiano). 
Sintagma X Paradigma
Na visão de Saussure, o sintagma é a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior, ou seja, a sequência de fonemas se desenvolve numa cadeia, em que um sucede ao outro, e dois fonemas não podem ocupar o mesmo lugar nessa cadeia. Enquanto que o paradigma para ele se constitui de um conjunto de elementos similares, os quais se associam na memória, formando conjuntos relacionados ao significado (campo semântico). Como o autor mesmo afirma, é o banco de reservas da língua
Sincronia X Diacronia 
Saussure, por meio dessa relação dicotômica retratou a existência de uma visão sincrônica – o estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica - estudo da linguística histórica, materializado pela mudança dos signos ao longo do tempo. Tal afirmação, dita em outras palavras, trata-se de um estudo da linguagem a partir de um dado ponto do tempo (visão sincrônica), levando-se em consideração as transformações decorridas mediante as sucessões históricas (visão diacrônica), como é o caso da palavra vosmecê, você, ocê, cê, vc...
Mediante os postulados aqui expostos, cabe ainda ressaltar que a linguística não se afirma como uma ciência isolada, haja vista que se relaciona com outras áreas do conhecimento humano, tendo por base os conceitos dessas. Por essa razão, pode-se dizer que ela assim subdivide:
Psicolinguística – trata-se da parte da linguística que compreende as relações entre linguagem e pensamentos humanos.
Linguística aplicada – revela-se como a parte dessa ciência que aplica os conceitos linguísticos no aperfeiçoamento da comunicação humana, como é o caso do ensino das diferentes línguas.
Sociolinguística – considerada a parte da linguística que trata das relações existentes entre fatos linguísticos e fatos sociais.