DISSERTAÇÃO
Dissertação é um texto que se caracteriza
pela defesa de uma idéia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca
de um determinado assunto.
Em geral, para se obter maior clareza
na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir a matéria em três
partes.
- introdução - em que se
apresenta a idéia ou o ponto de vista que será defendido;
- desenvolvimento ou argumentação
- em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o
leitor; para isso, deve-se usar uma sólida argumentação, citar exemplos,
recorrer a opinião de especialistas, fornecer dados, etc.
- conclusão - em que se dá um
fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento, com os argumentos
apresentados.
Quanto à linguagem, prevalece o
sentido denotativo das palavras e a ordem direta das orações. Também são muito
importantes, no texto dissertativo, a coerência das idéias e a utilização de
elementos coesivos, em especial das conjunções que explicitam as relações entre
as idéias expostas. Portanto, a elaboração de um texto dissertativo não está
centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de
idéias e na forma como essas idéias são articuladas. Quando se lança mão de uma
figura de linguagem, ela deverá sempre ser utilizada com valor argumentativo,
como um instrumento a mais para a defesa de uma determinada idéia.
O
Esquema-Padrão
Inicialmente, é preciso não confundir
esquema com rascunho.
É importante atentar para um fato:
cada dissertação, dependendo do tema e da argumentação, pede um esquema. Uma
dissertação subjetiva, por exemplo, permite ao produtor do texto utilizar
certos recursos que seriam descabidos numa dissertação objetiva.
Esquema é um guia que estabelecemos
para ser seguido, no qual colocamos em frases sucintas (ou mesmo em simples
palavras) o roteiro para a elaboração do texto. No rascunho, vamos dando forma
à redação, porque nele as idéias colocadas no esquema passam a ser redigidas,
tomando a forma de frases até chegar a um texto coerente.
O primeiro passo para a elaboração de
um esquema é ter entendido o tema proposto, pois de nada adiantará um ótimo
esquema se ele não estiver adequado ao tema.
Por ser um roteiro a seguir, deve-se
dividir o esquema nas partes de que se compõe a redação. Se formos escrever uma
redação dissertativa, o esquema já deverá apresentar as três partes da
dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão, que podem vir
representadas pelas letras a, b e c, respectivamente.
Na letra a, você deverá
colocar a tese que vai defender; na letra b, palavras que resumam os
argumentos que você apresentará para sustentar a tese; na letra c, uma
palavra que represente a conclusão a ser dada.
Quando estamos fazendo o esquema do
desenvolvimento (letra b), é comum surgirem inúmeras idéias. Registre-as
todas, mesmo que mais tarde você não venha a utilizá-las. Essas idéias
normalmente vêm sem ordem alguma; por isso, mais tarde é preciso ordená-las,
selecionando as melhores e colocando-as em ordem de importância. A esse
processo damos o nome de hierarquização das idéias.
Para não se perder tempo elaborando
um outro esquema, a hierarquização das idéias pode ser feita por meio de
números atribuídos às palavras que aparecem no esquema, seguindo a ordem em que
serão utilizadas na produção do texto.
Apresentamos, agora, um exemplo do
esquema com as idéias já hierarquizadas:
Tema:
A pena de morte: contra ou a favor?
a) contra, não resolve.
b) 1. direito à vida –
religião.
2. outros países – EUA
3.
erro judiciário.
4.
classes baixas
5.
tradição.
c) ineficaz: solução:
erradicação da pobreza.
Feito o esquema, é segui-lo passo a passo,
transformando as palavras em frases, dando forma à redação.
No exemplo dado, na introdução você se
declararia contrário (a) à pena de morte porque ela não resolve o problema do
crescente aumento da criminalidade no país.
No desenvolvimento, você utilizaria os
argumentos de que todas as pessoas têm direito à vida, consagrado pelas
religiões; de que nos países em que ela existe, citando os Estados Unidos como
exemplo, não fez baixar a criminalidade; de que sempre é possível haver um erro
judicial que leve a matar um inocente; de que, no caso brasileiro, ela seria
aplicada somente às classes mais baixas; que não podem pagar bons advogados; e,
finalmente, de que a tradição jurídica brasileira consagra o direito à vida e
repudia a pena de morte.
Como conclusão, retomaria a tese insistindo
na ineficácia desse tipo de pena e indicando outras soluções para resolver o
problema da criminalidade, como a erradicação da miséria.
A
Gramática da Dissertação
Quanto aos aspectos formais, a dissertação
dispensa o uso abusivo de figuras de linguagem, bem como do valor conotativo
das palavras (veja bem: estamos falando que não se deve abusar). Por suas
características, o texto dissertativo requer uma linguagem mais sóbria,
denotativa, sem rodeios (afinal, convence-se o leitor para força dos
argumentos, não pelo cansaço); daí ser preferível o uso da terceira pessoa.
Ao contrário da narração, a dissertação não
apresenta uma progressão temporal; os conceitos são genéricos, abstratos e, em
geral, não se prendem a uma situação de tempo e espaço; por isso o emprego de
verbos no presente. Ao contrário da descrição, que se caracteriza pelo período
simples, a dissertação trabalha com o período composto (normalmente, por
subordinação), com o encadeamento de idéias; nesse tipo de construção, o
correto emprego dos conectivos é fundamental para se obter um texto claro,
coeso, elegante.
NARRAÇÃO
A Narração é um relato centrado num fato ou
acontecimento; há personagem(ns) atuando e um narrador que relata a ação. A
narração é um tipo de texto marcado pela temporalidade. Ou seja, como
seu material é o fato e a ação que envolve personagens, a
progressão temporal é essencial para seu desenrolar: as ações direcionam-se
para um conflito que requer uma solução, o que nos permite
concluir que chegaremos a uma situação nova. Portanto, a sucessão de acontecimentos
que leva a uma transformação, a uma mudança, e a trama que se constrói com os
elementos do conflito desenvolvem-se necessariamente numa linha de tempo e num
determinado espaço.
Esquematizando, teríamos: a personagem A vive um conflito X que se resolve assim; após o conflito, o personagem A não será o mesmo do início da narrativa.
Esquematizando, teríamos: a personagem A vive um conflito X que se resolve assim; após o conflito, o personagem A não será o mesmo do início da narrativa.
Os elementos da narrativa são: Narrador,
enredo, personagens, ambiente e tempo.
Protagonistas
e Antagonistas
Já sabemos que a narrativa, em geral,
está centrado num conflito, que pode se dar entre o personagem e o meio físico,
ou entre ele e sua consciência, ou entre dois personagens. Como exemplo: dois
personagens desempenham o papel de lutadores. Em linguagem popular, temos
caracterizados o "mocinho" e o "bandido" (ou, como querem
alguns desenhos de televisão, "os do bem" e "os do mal").
Ou ainda, em outros termos, o herói e o vilão. Esses personagens
recebem o nome de protagonista e antagonista.
"Protagonista" e
"antagonista" são palavras que vêm do grego. Conhecer o significado
original delas é bastante educativo:
protagonista: [Do gr. protagonistés,
o principal 'ator', ou 'competidor'.] S. 2g. 1. O primeiro ator do drama grego.
(...) 2. Teat. e Cin. A personagem de uma peça teatral, de um filme, de um
romance, etc. 3. Fig. Pessoa que desempenha ou ocupa o primeiro lugar num
acontecimento.
antagonista: [Do gr. antagonistés,
pelo lat. antagonista.]. Adj. 2 g. 1 Que atua em sentido oposto, opositor,
adversário. (...) S. 2g. 4. Pessoa que é contra alguém ou algo, adversário,
opositor.
Percebeu? Um é "o principal
lutador"; o outro é "o que luta contra".
Uma
observação: ao construir uma narrativa, nunca despreze o antagonista;
poderíamos até mesmo afirmar que o sucesso de uma narrativa está diretamente
ligado à perfeita caracterização desse personagem. Que o digam as novelas de
televisão!
Narração
e Narratividade
Em nosso dia-a-dia deparamos com
inúmeros textos narrativos: estamos o tempo todo contando algo ou ouvindo o
relato de alguém. O mesmo ocorre quando abrimos um jornal, ouvimos um
noticiário ou assistimos a um telejornal. Esses textos, embora narrativos, não
são considerados narração, uma vez que não pertencem ao campo da ficção, não
objetivam o envolvimento do leitor pelo trama, pelo conflito.
É o caso, por exemplo, dos relatos,
que tem o nítido propósito de transmitir fatos acontecidos, situações vividas.
Observe que há um ponto em comum entre esse tipo de texto e as narrações: ambos
são caracterizados pela temporalidade.
É isso que nos permite afirmar que
nos relatos há narratividade, ou seja, o modo de ser da narração.
A narratividade é marcada pela
seqüência de acontecimentos e pela transformação, sem caracterização do
narrador, dos personagens e, principalmente, do conflito. Em uma manchete de
jornal afirma que "Fulano foi eleito presidente", temos narratividade
e não narração. Havia uma situação inicial A (Fulano era candidato), que uma
sucessão de acontecimentos (a campanha, a votação, a contagem de votos, a
proclamação) levou a uma situação B, distinta da situação inicial (Fulano agora
está eleito).
Os
Elementos da Narrativa
Como já vimos anteriormente, a
narrativa de ficção é um relato centrado num fato ou acontecimento; há
personagens atuando e um narrador que relata a ação. O tempo e o cenário ou
ambiente são outros elementos importantes na estrutura da narração. O autor
trabalha o conjunto desses elementos no sentido de simular, de fingir uma história
que reflita uma dada realidade. O universo da ficção nos apresenta uma
realidade que não é verdadeira, mas é possível ser, e por isso a aceitamos como
real.
DESCRIÇÃO
Na descrição não há sucessão de
acontecimentos no tempo, de sorte que não haverá transformações de estado da
pessoa, coisa ou ambiente que está sendo descrito diferentemente da narração,
mas sim a apresentação pura e simples do estado do ser descrito em um
determinado momento.
A
descrição se caracteriza por ser o retrato de pessoas, objetos ou cenas. Para
produzir o retrato de um ser, de um objeto ou de uma cena, podemos utilizar a
linguagem não-verbal, como no caso das fotos, pinturas e gravuras, ou a
linguagem verbal (oral ou escrita). A utilização de uma dessas linguagens não
exclui necessariamente a outra: pense, por exemplo, nas fotos ou ilustrações
com legendas, em que a linguagem verbal é utilizada como complemento da
linguagem não-verbal. Pense também num anúncio de animal de estimação perdido
em que, ao lado da descrição verbal, também seja apresentada, como complemento
àquela informação, a sua foto.
A Descrição Verbal
A descrição verbal
também trabalha com imagens, representadas por palavras devidamente organizadas
em frases. Essas imagens podem ou não vir associadas a informações.
Pode-se entender a descrição
como um tipo de texto em que, por meio da enumeração de detalhes e da relação
de informações, dados e características, vai-se construindo a imagem verbal
daquilo que se pretende descrever. Observe que, no texto de Arthur Nestrovski,
o autor enumera elementos constantes do trabalho de Sebastião Salgado,
associando a eles informações que não estão presentes na foto.
A descrição, entretanto, não se resume a uma enumeração pura e simples.
Se assim fosse, a descrição de Arthur Nestrovski faz da foto de Sebastião
Salgado nada nos esclareceria além daquilo da própria foto nos diz. É essencial
revelar também traços distintivos, ou seja, aquilo que distingue o objeto
descrito dos demais. Observe que, ao descrever a foto, o autor nos revela
características que, talvez, não tivéssemos percebido quando a olhamos pela
primeira vez, além das impressões que ela lhe causou.
Uma observação
Dificilmente você encontrará um texto
exclusivamente descrito (isso ocorre em catálogos, manuais e demais textos
instrucionais). O mais comum é haver trechos descritivos inseridos em textos
narrativos e dissertativos. Em romances, por exemplo, que são textos
narrativos por excelência, você pode perceber várias passagens descritivas,
tanto de personagens como de ambientes.
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O Ponto de Vista
O Ponto de vista é a
posição que escolhemos para melhor observar o ser ou o objeto que vamos
descrever. No entanto, nas descrições, além da posição física, é fundamental a
atitude, ou seja, a predisposição psicológica que temos com relação àquilo que
vamos descrever. o ponto de vista (físico e psicológico) que adotarmos acabará
determinando os recursos expressivos (vocabulário, figuras, tipo de frase) que
utilizaremos na descrição.
O ponto de vista físico vai
determinar a ordem da apresentação dos detalhes, que devem ser apresentados
progressivamente. Observe o que diz Othon M. Garcia, em sua obra Comunicação em prosa moderna
p. 217:
Nunca é, por exemplo,
boa norma apresentar todos os detalhes acumulados em um só período. Deve-se, ao
contrário, oferecê-los ao leitor pouco a pouco, verificando as partes
focalizadas e associando-as ou interligando-as.
Na descrição de uma pessoa, por exemplo, podemos,
inicialmente, passar uma visão geral e depois, aproximando-se dela, a visão dos
detalhes: como são seus olhos, seu nariz, sua boca, seu sorriso, o que esse
sorriso revela (inquietação, ironia, desprezo, desespero...), etc.
Na descrição de objetos, é
importante que, além da imagem visual, sejam transmitidas ao leitor outras
referências sensoriais, como as táteis (o objeto é liso ou áspero?), as
auditivas (o som que ele emite é grave ou agudo?), as olfativas (o objeto exala
algum cheiro?).
A descrição de paisagens
(uma planície, uma praia, por exemplo) ou de ambientes (como uma sala, um
escritório) -- as cenas -- também não devem se limitar a uma visão geral. É
preciso ressaltar seus detalhes, e isso não é percebido apenas pela visão.
Certamente, numa paisagem ou ambiente haverá ruídos, sensações térmicas,
cheiros, que deverão ser transmitidos ao leitor, evitando que a descrição se
transforme numa fria e pouco expressiva fotografia. Também poderão integrar a
cena pessoas, vultos, animais ou coisas, que lhe dão vida. É, portanto,
fundamental destocar esses elementos.
DEFEITOS DO TEXTO
1. AMBIGÜIDADE
A duplicidade de sentido, seja de uma
palavra ou de uma expressão, dá-se o nome de ambigüidade. Ocorre geralmente,
nos seguintes casos:
Má colocação do Adjunto Adverbial
Exemplos:
Crianças que recebem leite materno freqüentemente são mais sadias.
As crianças são mais sadias porque
recebem leite freqüentemente ou são freqüentemente mais sadias porque recebem
leite?
Eliminando a ambigüidade: Crianças que recebem freqüentemente leite
materno são mais sadias.
Crianças que recebem leite materno
são freqüentemente mais sadias.
Uso Incorreto do Pronome Relativo
Gabriela pegou o estojo vazio da
aliança de diamantes que estava sobre a cama. O que estava sobre a cama: o estojo vazio ou a aliança de diamantes?
Eliminando a ambigüidade: Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes a qual estava sobre a cama.
Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes o qual estava sobre a cama.
Observação: Neste exemplo, pelo fato
de os substantivos estojo e aliança pertencerem a gêneros diferentes,
resolveu-se o problema substituindo os substantivos por o qual/a qual. Se
pertencessem ao mesmo gênero, haveria necessidade de uma reestruturação
diferente.
Má Colocação de Pronomes, Termos, Orações ou Frases
- Aquela velha senhora encontrou o garotinho em seu quarto.
- O garotinho estava no quarto dele ou da senhora?
- Eliminando a ambigüidade: Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dela.
- Aquela velha senhora encontrou o garotinho no quarto dele.
- Ex.: Sentado na varanda, o menino avistou um mendigo.
- Quem estava sentado na varanda: o menino ou o mendigo?
- Eliminando a ambigüidade: O menino avistou um mendigo que estava sentado na varanda.
- O menino que estava sentado na varanda avistou o mendigo.
2. FRASES SIAMESAS
Leia
a frase:
A garota estava apavorada teria de enfrentar o pai
furioso.
Este tipo de frase, denominada
siamesa, em analogia irmãs ou a irmãos siameses (crianças que nascem unidas por
uma parte do corpo), caracteriza-se por apresentar idéias ligadas
incorretamente, ou seja, frases distintas, que possuem enunciado completo, são
apresentadas como se fossem uma só, por não haver elemento de ligação entre
elas, como sinais de pontuação ou conectivos.
Veja
como fica a frase acima, se eliminarmos o problema:
1ª
opção: usar sinais de pontuação.
A
garota esta apavorada; teria de enfrentar o pai furioso.
A
garota estava apavorada. Teria de enfrentar o pai furioso.
2ª
opção: usar conectivos coordenativos.
A
garota estava apavorada, mas teria de enfrentar o pai furioso.
A
garota estava apavorada, pois teria de enfrentar o pai furioso.
3ª
opção: usar conectivos subordinativos.
Como
teria de enfrentar o pai furioso, a garota estava apavorada.
A
garota estava apavorada, porque teria de enfrentar o pai furioso.
3. FRASES SEGMENTADAS
Leia
a frase:
a)
O padre dirigia-se à sacristia. Quando chegou um bando de crianças
barulhentas.
A
frase segmentada caracteriza-se por apresentar-se separada incorretamente, pois
é marcada por um ponto que separa enunciados incompletos.
Veja como fica a frase acima, se eliminarmos o problema:
O padre dirigia-se à sacristia, quando chegou um bando de crianças
barulhentas.
b)
A garota chegara de Capri. Uma pequena ilha do sul da Itália.
Veja
como fica a frase correta:
A garota chegara de Capri, uma pequena ilha do sul da Itália.
Observação:
É importante para a clareza de seu texto que
você não construa tais tipos de frases. A melhor maneira é a leitura atenta
para evitar problemas, resolvidos, muitas vezes, com um simples sinal de
pontuação, com conectivos adequados ou com a alteração da ordem dos termos.
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