Já nos disse Bakhtin, filósofo russo, que
todas as esferas de atividade humana estão ligadas pela palavra. E que cada
esfera destas produz seus repertórios de discursos relativamente estáveis (os
gêneros do discurso).
Este enunciado que pode nos parecer
difícil pode ser explicado da seguinte maneira. Cada um de nós, ao longo de
nosso dia-a-dia, através de nosso cotidiano, nos deparamos com uma infinidade
de tipos de discursos, ou seja, com tipos de textos.
Conhecemos todos eles através da prática.
Produzimos e lemos em todos os momentos da
nossa vida textos escolares, literários, jornalísticos, pessoais, oficiais, e
ainda reconhecemos em cada um as suas características próprias. Quero dizer que
cada tipo de texto possui sua característica, sua forma, sua materialidade.
A estrutura de determinado tipo de texto
pode ser mais flexível ou menos, aos mais flexíveis chamamos informais, pode
ser uma carta para a mãe, um bilhete que escrevemos escondido durante uma aula
chata, um bate papo na internet, ou a fala corriqueira entre as pessoas. Já aos
textos menos flexíveis, que são mais rigorosos na sua estrutura, chamamos
textos formais, são os ofícios (declaração, solicitação, contrato, etc.), os
textos literários, os científicos, os jornalísticos, etc. Em suma, estes
últimos são os textos que não aceitam, ou aceitam pouco, as mudanças nas regras
de sua construção. Alguns textos formais, dependendo do seu contexto, podem
ficar informais, como é o caso do texto literário, que se situaria no campo da
formalidade, porém se lêssemos as narrativas modernas, perceberíamos a
tentativa de fugir do padrão principalmente depois dos modernistas.
Além dos textos formais e informais, temos
os tipos de textos verbais e não-verbais. Os primeiros são aqueles
predominantemente escritos. Com a palavra como meio de compreensão. São os
tipos de textos mais aceitos como textos. Porém também há os textos não-verbais
que se caracterizam ou pela oralidade, pelo som, ou pela visão. Um exemplo de
texto oral é a música, que podemos chamar de textos, pois tem um autor que a
direciona ao leitor, ou ouvinte; as músicas são produzidas geralmente com um
sentido; têm um contexto e tem uma estrutura material. Mesmo as músicas que não
tem letra foram produzidas seguindo rigorosas regras, produzindo uma sensação,
produzindo um sentido. Quem compõe música sabe disso, não é possível produzir
uma sem seguir as regras deste tipo de texto.
Além da música, que é um tipo de texto
sonoro, podemos classificar como texto também a pintura, um texto visual. Cada
autor tem sua forma de se expressar através de um quadro. O traçado, a cor, a
forma, tudo isso direciona um sentido para a pintura. Temos como tipos de texto
a dança, que têm a música e o movimento a seu favor, podemos dizer as mesmas
coisas que dissemos aos anteriores dela. A dança, a música e o quadro são tipos
de textos não-verbais, pois para os compreendermos não lemos pa-la-vras,
escritas nem ouvidas, mas o movimento, a pintura e o som organizados são
importantes para se inferir os significados.
A possibilidade de se produzir ou se
compreender um texto é infinita devido às infinidades de tipos de textos, ou
seja, de gêneros do discurso que existem ao longo da sociedade. Se estamos
deprimidos, por exemplo, podemos escolher um dentre um repertório enorme que
conhecemos destes tipos de textos. Escolheremos de acordo com a situação, com a
necessidade, com nossas facilidades em escrever tal ou tal tipo de texto. A
minha depressão pode ser expressa através de uma carta de suicídio, ou de uma
mensagem no meu blog, ou de um grito de lamento, ou um poema.
Também a minha vontade de passar no
vestibular, por exemplo, pode ser expressa através da leitura de textos
didáticos de diferentes ramos do conhecimento humano. O fato de eu estar estudando
vai me fazer escrever mais dissertação do que poema. Já que eu sei que a prova
vai me exigir mais aquele gênero do discurso do que este. Porém a mesma prova
vai exigir que eu tenha lido tal livro de poesia, pois está como leitura
obrigatória.
Dependendo do meu papel na sociedade, ou
dos meus interesses eu vou me manifestando com tantos tipos de textos que eu
precisar, por isso torna-se tão importante conhecermos e compreendermos cada
característica de tipos de texto diversos. A minha vida e as atividades humanas
das quais eu participo vão determinar a minha fluência ou não para cada texto.
Texto e contexto se desenrolam com a nossa vida. Uma existe para a outra assim
como a palavra para o escritor, ou o traçado para o pintor, ou o som para o
compositor. Texto e contexto transformam nossa através dos tipos relativamente
estáveis de texto, em suma, através dos gêneros do discurso.
Por: Eduardo Eide Nagai
Fonte:
http://meuartigo.brasilescola.com/os-generos-discurso
Nenhum comentário:
Postar um comentário