O objeto de estudo da linguística é a língua. Estes
três estudiosos nos apresentam pontos vista distintos a este respeito.
Para Saussure a língua é um sistema de signos que
exprime ideias, um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo social para
permitir o exercício desta faculdade pelos sujeitos. Ela é percebida como um
produto acabado, depositado na mente do indivíduo para que viva em sociedade.
Este estudioso é representante na filosofia da linguagem do Objetivismo
Abstrato, que vê como centro orientador da língua o sistema linguístico, ou
seja, o sistema de formas fonéticas, gramaticais, lexicais da língua. Língua,
neste sentido, está fora do curso da comunicação verbal.
Bakhtin vai além desta visão, quando percebe a
língua como um conjunto de vozes sociais, que se entrecruzam num processo
contínuo, onde se formam novas vozes. Os indivíduos não recebem a língua pronta
para ser usada. “O centro organizador de toda comunicação, de toda expressão,
não é o interior, mas o exterior: está situado no meio social que envolve o
indivíduo”. É no social que se constroem os significados e a língua é
atualizada. Bakhtin critica então, a posição filosófica da linguagem do
Objetivismo Abstrato, por não considerar a enunciação monológica, por não
considerá-la um produto acabado. Segundo ele, a língua, embora tenha uma
relativa estabilidade, ela evolui, se atualiza juntamente com o contexto
sócio-histórico. Ele critica também o Subjetivismo Idealista, porque não
entende a fala como uma criação individual, que surge a partir de condições da
vida psíquica do indivíduo. Entende que a palavra possui sempre um conteúdo/um
sentido ideológico ou vivencial.
Para Benveniste, a língua é uma estrutura da qual o
sujeito se apropria para se enunciar diante do outro. Sua concepção é de
movimento, onde leva em conta o tempo e a intenção atualizada. Para ele língua
inexiste sem troca ou expressão de pessoa. Em sua estrutura há a possibilidade
de surgir à subjetividade, na relação eu/tu constituída.
De acordo com o contexto sócio-histórico, com
interesses, valores, necessidades envolvidas sejam individuais ou grupais,
quando a palavra é proferida, através de signos carregados de significados
próprios, ela é compreendida em sua intenção no contexto de onde ela emergiu.
Caso contrário ela não será interpretada de acordo com sua intenção. A fala,
segundo Bakhtin, é sempre de natureza social, enquanto que para Saussure ela é
um ato individual, de inteligência e de manifestação momentânea. Para este a
palavra é valorizada na sua unicidade, no seu significado em si. Bakhtin, no
entanto, entende a palavra como uma ponte, uma ligação entre o locutor e o
ausente, carregada de conteúdo, sentido, valoração arbitrária. Ela se apoia no
“eu” e no “outro” de maneira responsiva.
A enunciação, que se utiliza da fala, é rejeitada
por Saussure, porque considera que apenas o sistema linguístico pode dar conta
da língua. Bakhtin, entretanto a considera como um produto da interação social,
onde o seu significado nunca coincide com o conteúdo verbal. As palavras ditas,
muitas vezes estão impregnadas de coisas presumidas e não ditas, seja pela
entonação, pelo silêncio entre elas, pela linguagem corporal. Muitas vezes o
próprio contexto tem mais sentido do que a palavra.
Enunciação, de acordo com Benveniste, é única em seu
ato. De acordo com o tempo (físico, crônico e linguístico), com a intenção, ela
é atualizada. Seu ponto de referência é o sujeito, apesar de ser
estruturalista, utilizando pronomes, verbos e o tempo, principalmente, para
explicar a enunciação e o discurso na (inter) subjetividade. Para
compreendermos melhor sua teoria é importante conhecer a divisão de tempo por
ele feita. Tempo físico: visto como um contínuo linear, infinito, onde o
sujeito mede-o de acordo com as suas emoções, com o ritmo de sua vida interior
– é uma visão subjetiva de tempo; tempo crônico: é o tempo dos acontecimentos,
que mede a vida pelos eventos, pelo calendário. Ele considera a vida uma
sequência de acontecimentos - é uma visão objetiva de tempo; tempo linguístico:
está ligado organicamente através do exercício da fala. Ele se define e se
organiza em função do discurso, onde o presente é reinventado a cada ato
individual – remete a uma subjetividade.
Na interação entre indivíduos são feitas enunciações
que fazem parte de um diálogo. Esta relação dialógica para Bakhtin necessita da
palavra (como material lingüístico) que no discurso transforma-se em enunciado,
com sentido (considerando o contexto sócio-histórico). Só assim será possível
ao indivíduo responder, confirmar, opor, rejeitar, confrontar a palavra do
outro.
Para Benveniste só no discurso o pronome é carregado
de significado, caso contrário ele é considerado uma forma vazia apenas (um
dêitico). No discurso o “eu” fala com o “tu”. Há uma mudança de estado de
acordo com a posição emissor-receptor: “quem fala para quem”? É também referida
uma terceira pessoa no discurso através da língua: o “ele”, que pode ser outra
pessoa (presente ou não), um livro comentado, uma questão política, uma
representação de algo, etc. Na constituição de um discurso, composto de
enunciados, a classe de palavras utilizadas é que marca a presença do sujeito
que a utiliza – sua subjetividade. Ex: “Suponho que todos tenham descansado
neste feriado”. “Ele conseguiu provocar minha curiosidade”.
O sujeito, envolvido nas interações e suas relações
dialógicas, não é referido por Saussure, pelo fato de que ele estuda a língua
em sua estrutura formal apenas. Ele inclui o social apenas do ponto de vista da
convenção das regras do sistema linguístico.
Benveniste surge nesta época reintroduzindo o
sujeito na linguagem, através de uma abordagem enunciativa. O sujeito (eu) é
aquele que se coloca em relação ao outro (tu) de modo instintivo, natural nas
suas interações, através da linguagem em todos os discursos. O “eu” como
pronome, é designado a produzir em cada discurso uma nova pessoa. A
subjetividade para Benveniste tem grande importância em seus estudos. Leva em
conta a capacidade do locutor se propor como sujeito na e pela linguagem. Se a
identidade do sujeito se constrói na relação com o Outro então, subjetividade
remete a (inter) subjetividade. “Torno-me o que sou na medida em que me
comunico, em que interajo com o Outro”. O “eu” influencia e é influencia pelo
Outro (tu) de maneira contínua, onde ambos são sujeitos.
Bakhtin também inclui o sujeito em seus estudos.
Para ele língua é interação e o sujeito é produzido pela sociedade através das
interações que realiza durante toda sua vida. Nestas interações signos precisam
ser interpretados, decodificados. Pelo fato de serem ideológicos, eles são
fluidos, permitem a expressão de ideias, cruzam sentidos, são plurais. São
“verdades” sociais que vão se resignificando de acordo com o contexto e seus
discursos, requerendo para tal uma compreensão responsiva. O significado é
então, construído na dinâmica da história e marcado pela diversidade de
vivências, contradições, componentes de valoração, etc. E a significação não é
dada pelo signo em si, mas pela reprodução, estabilização, pela potencialidade
que a palavra apresenta em determinado contexto sócio-histórico.
Fonte: http://educandoatravesdalinguagem.blogspot.com.br/2011/06/saussure-benveniste-bakhtin.html