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RETRATO
Ziraldo Nascido em 1932, Ziraldo Alves Pinto é um dos mais conhecidos cartunistas do Brasil, famoso principalmente pela criação do personagem Menino Maluquinho e de sua turma. Ziraldo tornou-se referência na literatura infanto-juvenil e é admirado como chargista também pelo público adulto. |
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RETRATO
Foucambert Jean Foucambert é um professor francês, responsável pelo serviço de pesquisa no INRP (Instituto Nacional de Pesquisa Pedagógica) da França e um dos criadores da Associação Francesa pela Leitura (AFL). Propõe o termo leiturização como uma leitura crítica, não mera junção de termos. |
“Ler é mais importante que
estudar”.
A frase tem o respaldo de quem
sabe o que está falando – Ziraldo, um dos mais bem sucedidos
escritores de livros infantis no Brasil. Unem-se a Ziraldo outros escritores e
educadores de expressão, como Monteiro Lobato, com sua já famosa frase “Quem
não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”, e Jean Foucambert, que diz que os “Alunos
devem ser leiturizados, e não alfabetizados”.
O que tanto pais quanto
educadores precisam ter sempre em mente – especialmente nos primeiros anos da
alfabetização – é que aprender a ler não é o mesmo que aprender a decodificar
as letras e conhecer a estrutura da língua; ler bem envolve a criação de uma
relação profunda entre escrita e pensamento, que precisa ser tão natural quanto
a relação entre a fala e o pensamento.
Para garantir que a alfabetização
(ou a “leiturização”, como sugere Foucambert) está sendo efetiva, é
necessário que adultos na escola e em casa assumam ativamente a posição de
pesquisadores, analisando a evolução dos alunos para descobrir eventuais
deficiências e poder saná-las o mais cedo possível.
Para tanto, é necessário que o
professor ou responsável (que será chamado aqui de “pesquisador” por questão de
simplicidade) tenha noção que a leitura se dá em pelo menos três níveis:
Leitura Objetiva: Trata-se
do nível mais básico de leitura, o famoso “be-a-bá”, onde o estudante aprende a
decodificar as letras e montar palavras e frases. Quando iniciando neste nível,
a criança consegue reconhecer palavras e explicar o significado de frases
curtas, sendo capaz de falar dos elementos explícitos do texto. À medida em que
evolui, o aluno melhora seu domínio do texto, aumentando o vocabulário e
reconhecendo elementos de ligação, sendo inclusive capaz de reconhecer
eventuais falhas de coerência na história. Já na transição para o nível de
leitura inferencial está a capacidade de situar o texto no ambiente em que ele
ocorre, o contexto espacial e temporal da história.
Leitura Inferencial: Quando
atinge este nível, o estudante se torna capaz de reconhecer não apenas o que
está escrito, mas também deduzir elementos implícitos no texto. É o chamado
infratexto, aquele conjunto de informações que todo bom leitor apreende sem se
dar conta, mas que na verdade estão apenas sugeridos na história. Como esta
capacidade inferencial está intimamente ligada à bagagem de conhecimento do
leitor, ela se amplia conforme a quantidade de leituras realizadas, até que se
chega finalmente ao nível da leitura avaliativa.
Leitura Avaliativa: Leitores
que estão neste nível têm a capacidade não só de ler o texto e responder
questões sobre o que está explicitamente ou implicitamente sendo dito, mas
também de fazer conexões com outros textos e informações sobre os temas
tratados aprendidas de outras fontes. É o que os pedagogos chamam de
intertexto, e que no fundo é a capacidade do leitor de dar sua opinião do
leitor sobre o texto baseada em suas experiências anteriores.
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Quando avaliando o nível de
leitura de um estudante ou uma turma de estudantes, o pesquisador deve tomar o
cuidado de propor atividades que sejam lúdicas, em um ambiente natural e sem
cobranças, até porque é essencial que a criança reconheça o hábito da leitura
como algo prazeroso desde seus primeiros contatos com a língua escrita.
PARTINDO PARA A AVALIAÇÃO
Nesta linha, uma boa dica é realizar estas atividades em quatro etapas:
Nesta linha, uma boa dica é realizar estas atividades em quatro etapas:
Etapa de Motivação: Nesta
etapa, o pesquisador deve se dedicar exclusivamente a estimular a curiosidade
da criança sobre o texto a ser lido. Para isso, uma ótima tática é mostrar a
capa do livro e o título do livro e perguntar ao estudante como ele acha que é
a história do livro. Se não houver uma resposta objetiva, é possível mostrar
algumas ilustrações ou dar sua opinião, sempre buscando mostrar o quão
divertida deve ser aquela história. As perguntas que o pesquisador pode fazer
nesta etapa são tipicamente inferenciais a partir do título e imagens da capa
do livro, como: “Veja só este título, o que esta história deve contar?”, “Se
você escrevesse uma história com este título, como ela seria?”, “Quem você acha
que é o personagem principal desta história?”, “Onde será que esta história
acontece?” e outras do gênero.
É essencial que o educador
também leia, não apenas para dar o exemplo do que ensina, mas para auxiliar,
assim, o desenvolvimento do gosto pela leitura no educando
Etapa de Leitura: Nesta
etapa a criança deve ser deixada à vontade para ler o livro, sem pressa e sem
nenhum tipo de comparação com outras crianças. Quando lendo na escola, devem
ser evitadas questões como “Quem já acabou de ler?” para que os que leem mais
lentamente não se sintam constrangidos ou compelidos a mentir sobre sua
evolução; antes, o professor deve ir de aluno em aluno, acompanhando com os
olhos e registrando em suas anotações aqueles que demoram mais tempo para poder
realizar atividades de reforço nos momentos apropriados.
Etapa de Avaliação do Nível de
Leitura: É neste momento que o pai ou professor deve agir mais
ativamente como pesquisador, de forma a poder avaliar o nível de leitura da
criança e poder dar atividades apropriadas a este nível. No caso dos
professores, é essencial registrar as observações de forma a permitir que seja
dada a atenção adequada a cada criança. Nesta etapa devem ser sugeridas
atividades que iniciam nos níveis mais básicos de leitura, indo de maneira
crescente até os níveis mais sofisticados - lembrando que as crianças não devem
sentir que estão sendo cobradas ou avaliadas, mas sim que estão participando de
uma conversa descontraída sobre o livro que leram.
Comumente, as perguntas do
pesquisador devem, inicialmente, tratar dos elementos explícitos do livro, e
ser bem objetivas, como, por exemplo: “Qual o nome do personagem principal?”,
“Que idade tem ele?” ou “Qual é o bicho que é vizinho do sapo?”.
Gradualmente, as perguntas devem
contemplar elementos menos explícitos no texto, chegando àqueles que podem ser
inferidos a partir do que está escrito. Nesta parte, as perguntas começam a
voltar-se mais para a opinião do leitor, como em “O que você acha que os pais
das crianças descobriram no bosque, que fez com que eles ficassem tão
espantados?”, “Que idade deve ter Aninha?” ou “Qual será a cor do
bicho-folha?”.
Por fim, as perguntas devem
chegar ao nível da leitura avaliativa, levando os alunos a darem sua opinião
sobre os assuntos, explorando possibilidades e verificando sua capacidade de
cruzar informações das histórias com informações de outras fontes. Nesta linha,
perguntas comuns seriam: “Como será viver na terra em que vive o Papai Noel,
onde faz tanto frio que a chuva congela e vira neve?”, “Alguém conhece outra
história, ou alguma piada, que também fale sobre sapos?”, “Quem já viu algum
filme que conte uma história parecida?”. Conforme as respostas, seguem-se
perguntas: “Você acha que esta outra história se parece com a outra? Por quê?”,
“Qual a diferença do sapo desta história para o sapo da outra?”, “A casa do
Papai Noel deste filme se parecia com a do livro?”.
Fase de Consolidação dos
Resultados: O trabalho do professor ou pai como pesquisador só se
conclui com a consolidação dos resultados, porque, mesmo em se tratando de
avaliar apenas uma criança, raramente se consegue uma posição definitiva com a
leitura de apenas um livro. À medida que as forças e fraquezas da leitura da
criança se tornam evidentes, cabe ao educador estimular a criança elogiando
seus pontos fortes e trabalhando sutilmente seus pontos fracos, de forma a
garantir sua formação como leitor independente.
Em um país onde o hábito de
leitura ainda não faz parte da rotina de grande parte da população, os
educadores devem conscientizar-se de que sua responsabilidade não é meramente
alfabetizar as crianças, mas sim desenvolver nelas o gosto pela leitura que
levarão pelo resto de suas vidas.
Para isso é essencial que o
educador - seja ele o professor ou o responsável - também seja um leitor, não
só porque a criança aprende muito pelo exemplo, mas também porque é impossível
imitar o brilho no olhar daqueles que verdadeiramente amam a leitura, este
brilho que é a maior inspiração no desenvolvimento destes novos leitores.
Nunca é tarde para descobrir o
prazer da leitura... Então, qual foi o último livro que você leu, simplesmente
pelo prazer de ler?
Por Alexandre Lobão é
escritor, roteirista e realizador de Workshops de Escrita de Ficção.
Informações: http://www.alexandrelobao.com |http://escritacriativa.net/3Wef
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